sábado, 25 de fevereiro de 2012

Número de feridos a bala aumenta 69% na capital


Número de pessoas baleadas e internadas em hospitais do SUS em Belo Horizonte aumentou 69% de 2010 para o ano passado, bem superior ao crescimento registrado no estado e no país
Publicação: 25/02/2012 06:00 Atualização: 25/02/2012 07:11
Thiago Diniz mostra cicatriz da cirurgia a que foi submetido depois de levar três tiros de assaltante (PAULO FILGUEIRAS/EM/D. A PRESS)
Thiago Diniz mostra cicatriz da cirurgia a que foi submetido depois de levar três tiros de assaltante
Foi quando deixava a namorada em casa, na Região da Pampulha, depois de uma festa de aniversário, que o universitário Thiago Diniz, de 21 anos, levou um susto. Um ladrão, aparentemente drogado, invadiu o carro e apontou um revólver calibre 32 para o casal. “Estávamos na porta da casa da tia dela telefonando para que abrisse o portão. O bandido me mandou tocar o carro e ameaçou furar minha namorada se ela não parasse de chorar”, lembra o estudante de administração. Pararam num lote vago e o bandido ordenou que o rapaz entrasse no porta-malas do carro. “Naquele momento achei que ele iria nos matar”, afirma. Thiago reagiu e conseguiu tomar o revólver do bandido, mas levou três tiros. 

Casos como o do universitário, que carrega cicatrizes da cirurgia no abdômen, são atendidos com cada vez mais frequência pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Belo Horizonte. De acordo com o Ministério da Saúde, houve 69% mais internações de pessoas feridas por armas de fogo na cidade, comparando-se 2011 e 2010. Foram 909 pacientes internados em hospitais do SUS no ano passado, contra 537 do ano anterior. São 2,4 internações diárias em média. O índice de crescimento da capital só perde para Goiânia, que registrou alta de 79% nas internações (427 para 765 no período).

Os números de BH superam o crescimento médio do país e do estado, que chegaram a 1,4% e a 35%, respectivamente. Além dos feridos, o número de pessoas que morreram quando eram atendidas em hospitais públicos aumentou, de 80 em 2010 para 117 no ano passado, crescimento de 46%. “Há uma grande oferta de armas de fogo nas ruas. Esse contexto leva ao aumento dos crimes e dos feridos”, avalia o especialista em segurança pública Robson Sávio Reis Souza, coordenador do Núcleo de Estudos Sociopolíticos da PUC Minas e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. 

Tráfico de drogas

Para o especialista, apesar de autoridades policiais estimarem que 80% das vítimas de tiros são pessoas envolvidas com tráfico de drogas, há dados que indicam que a proporção pode não ser tão grande. “Estudos de inquéritos no Brasil mostram que a explicação do tráfico de drogas é simplista. Os conflitos interpessoais, por exemplo, chegam a responder por 50% das causas da violência com arma de fogo no Brasil”, afirma Souza. 

Os momentos de terror ao lado da namorada e sob a mira de um revólver transformaram a vida do estudante de administração Thiago Diniz. “Não me sinto mais tão seguro. Minha namorada e minha família entraram em pânico. Mudaram completamente seus hábitos para tentar se proteger e até evitam passar por certos lugares”, conta.

Os ferimentos a bala, com ou sem internações, também tiveram aumento significativo no Hospital de Pronto-Socorro João XXIII. De acordo com dados da instituição, foram 865 feridos ou internados em 2010, contra 1.104 no ano passado, um crescimento da ordem de 27,6%. A Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) não comentou a alta do número de feridos a bala. Reiterou que Minas é o terceiro estado com menos homicídios, segundo estudo do Ministério da Justiça em parceria com o Instituto Sangari, em novembro do ano passado. Foram 18,1 mortes a cada grupo de cem mil habitantes em 2010. A secretaria informou ainda que dados sobre homicídios ocorridos em 2011 estão em fase final de consolidação para divulgação.

Memória: quatro mortes por dia
O aumento da potência e da quantidade de tiros fez com que mais vítimas morressem antes de serem atendidas por ambulâncias e levadas a hospitais. É o que mostrou reportagem publicada em agosto pelo Estado de Minas. De acordo com dados do SUS, 1.491 pessoas foram assassinadas a bala na Região Metropolitana de Belo Horizonte em 2009, média de quatro mortes por dia. Em 1996, quando 382 vítimas foram mortas dessa forma, 92 não resistiram aos ferimentos e morreram em via pública, o que representa 24% do total. Naquele ano, 218 feridos chegaram a ser levados a hospitais (os outros morreram em casa, locais ignorados ou outras unidades de saúde). Treze anos depois, uma inversão preocupante: 47% dos que morreram baleados na RMBH nem sequer puderam ser socorridos, totalizando 703 vítimas. Em 2009, último ano de análise do Ministério da Saúde nessa categoria, 405 pessoas alvo de balas morreram já em hospitais.