sábado, 16 de junho de 2012

Fraude em Minas: água vendida a preço de carne Operação Vaca Atolada, da PF, investiga seis frigoríficos que injetavam líquidos para aumentar o peso das peças


Publicação: 16/06/2012 06:00 Atualização: 16/06/2012 07:07
Cortes com vários furos chamaram a atenção de militares que compraram o produto por meio de licitação (pf/divulgação)
Cortes com vários furos chamaram a atenção de militares que compraram o produto por meio de licitação
A Polícia Federal (PF) instaurou inquérito para investigar uma suposta quadrilha envolvendo renomados frigoríficos de Minas Gerais. As empresas Cristal Frigo, Supremo Alimentos, GN Alimentos, Fridel, Hipercarnes e Plena Alimentos são suspeitas de aumentar o peso de diferentes cortes bovinos e suínos por meio de misturas à base de água e outras substâncias líquidas, como soro de leite. A princípio, a fraude não coloca a vida dos consumidores em risco. Mas a mistura causa a perda de nutrição nos alimentos e prejudica o bolso dos compradores, pois aumenta o peso da carne em até 50%. As peças eram entregues a supermercados – a suspeita é de que os estabelecimentos sejam vítimas da fraude – e, por meio de licitações, a instituições públicas.

A PF não descobriu ainda quais instituições podem ter comprado os alimentos com peso adulterado. Sabe-se apenas que a unidade do Exército Brasileiro em Juiz de Fora, na Zona da Mata, quase foi vítima da fraude. O delegado Marcílio Zocrato, responsável pelas investigações, informou que os militares suspeitaram das peças compradas por meio de licitação e solicitaram uma investigação pela PF e pelo Ministério da Agricultura. “O Exército não chegou a consumir os produtos”, garantiu o policial. Ele não confirma os nomes dos frigoríficos, que foram informados ao Estado de Minas por um investigador que prefere o anonimato.

Em nota, a PF informou apenas que cumpriu ontem 10 mandados de busca e apreensão em seis empresas da Região Metropolitana de Belo Horizonte, nas quais foram recolhidas amostras de peças bovinas e suínas. Porém, segundo o investigador que preferiu não se identificar, “dois laudos já foram concluídos e comprovaram as fraudes praticadas pelos frigoríficos Cristal Frigo e Supremo Alimentos”. “Os laudos referentes aos outros quatro ficarão prontos nos próximos dias”, acrescentou.

“As substâncias (introduzidas no interior das peças) são adicionadas à água para que o líquido fique agregado à carne”, explicou o perito da PF Antônio Pires. A operação realizada ontem foi batizada de Vaca Atolada, numa alusão ao modus operandi usado pelos suspeitos. Para injetar água e outras substâncias no interior das peças, funcionários usaram pesadas e grandes máquinas industriais, apelidadas de injetadoras. A superfície dos alimentos fica cheia de pequenos furos. 

A Vaca Atolada contou com a participação de técnicos do Ministério da Agricultura: “Eles autuaram os frigoríficos, lacrando as máquinas”, informou Zocrato. Os frigoríficos, porém, não foram obrigados a fechar as portas. O próximo passo da investigação é coletar depoimentos de funcionários e diretores dos seis frigoríficos.
Os suspeitos, caso sejam considerados culpados pela Justiça, podem cumprir até 12 anos de prisão por três crimes: formação de quadrilha, fraude a licitações e adulteração de alimentos. A PF não descarta ainda a possibilidade de alguns representantes de duas ou mais empresas se unirem para combinar preços a serem apresentados em licitações. “Estamos investigando quem são os sócios das empresas, pois não descartamos a possibilidade de laranjas”, destacou o delegado.

SILÊNCIO Procurados pela reportagem, os frigoríficos Cristal Frigo, GN Alimentos, Fridel e Hipercarnes informaram, por volta das 17h, que o expediente havia se encerrado e que nenhum responsável poderia ser encontrado, depois daquele horário, para comentar o caso. Já a Plena Alimentos informou “que não se posicionará por enquanto”. A reportagem tentou falar com representantes do Supremo por 10 vezes, em horários diferentes, mas a linha só dava sinal de ocupada.continue (lendo a materia)
Palavra de especialista
Daniel Magnoni
Nutrólogo e coordenador do Núcleo de Saúde da ESPM
Sem riscos ao consumidor
“A mistura de água utilizada para adulterar a carne não traz danos para a saúde. Porém, ela induz à perda das proteínas da carne. Em um quilo de carne bovina que antes tinha 10% de proteína, por exemplo, há a perda de 2% da proteína após o enxerto da substância – o que consideramos um montante significativo. Ou seja, as carnes perdem suas propriedades. Com isso o consumidor acaba comprando gato por lebre e paga caro por um produto que não tem as qualidades nutricionais convencionais. A dica é para que ao comprar a carne o consumidor verifique os selos do produto. Como não há modificações na aparência, após a aplicação dessas substâncias, é importante verificar se há o selo de inspeção do Ministério da Agricultura. Também acredito que a fiscalização permanente é de extrema importância para preservar e assegurar a qualidade dos alimentos e a saúde do consumidor.”
 Paga por Brahma, mas leva outra
 Quatro pessoas foram presas ontem em Araçaí, na Região Central do estado, suspeitas de comercializar cervejas adulteradas. Com os envolvidos foi encontrado um carregamento de 467 caixas da bebida falsificada. Eles adquiriam cervejas de marcas mais baratas em distribuidoras de cidades vizinhas e depois revendiam, com rótulos e tampas de marcas valorizadas, como Brahma, Skol e Antarctica. O processo de adulteração, segundo a Polícia Militar, ocorria em um sítio e em uma casa alugada pela quadrilha. 
No local, a polícia encontrou milhares de rótulos, tampas, cola apropriada para o produto e uma máquina para engarrafar e lacrar as bebidas. Em depoimento, os envolvidos revelaram estar na cidade há nove dias e que tinham como objetivo revender os produtos em bares e supermercados. Entre eles, um homem de Goiás foi preso e apontado como chefe do grupo, que também tinha como membro uma jovem, de 24 anos, do Espírito Santo. Outros dois homens foram encontrados no sítio, mas informaram não trabalhar para a dupla. 

Os envolvidos informaram ainda que cerca de 100 caixas de cervejas falsificadas já foram colocadas no mercado de Paraopeba, nos últimos dias. A intenção, segundo a quadrilha, era de que o carregamento fosse comercializado, nos próximos três meses – período pelo qual a casa teria sido alugada. Os prejuízos, valores arrecadados, fornecedores e empresas que revendiam os produtos serão investigados pela Polícia Civil. Os suspeitos foram encaminhados à Delegacia

Um comentário:

  1. Trabalhei um ano em uma dessas empresas.Isso ja tem bastante tempo que ocorre essa fraude,e conta com o apoio do pessoal da inspeção federal que fica dentro da empresa em troca de dinheiro.Geralmente eles fazem a injeção de salmora no periodo da madrugada por conta de fiscalização.

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