Publicação: 17/08/2012 06:00 Atualização: 17/08/2012 07:29
Apesar da alta nos salários, o chefe Vladimir Wingler destaca a escassez de mão de obra qualificada |
“O índice (da taxa de desocupação) próximo de 6% demonstra que, apesar da desaceleração da economia, o mercado de trabalho continua a todo o vapor. Nessa situação de pleno emprego, a manutenção e a contratação de profissionais se torna uma tarefa árdua. Para vencer o desafio, muitas empresas têm aceitado conceder reajustes maiores, buscando a redução da rotatividade”, explicou o administrador José Carlos Bastos, sócio-diretor da Total Consultoria, acrescentando que as 40 funções pesquisadas foram reunidas em três grupos. O maior ganho real médio, de 9,77%, coube ao pessoal administrativo/operacional. Mas houve categoria que obteve percentual bem maior.
“A função de operador de produção (nível de ensino médio) obteve reajuste superior a 14%. O salário base passou para cerca de R$ 1,4 mil”. Os outros dois grupos foram divididos em profissionais de nível superior, com aumento real médio de 3,01%, e gerentes (6,59%). O consultor destaca que “a pressão” exercida na base da estrutura de cargos, com a concessão de aumentos maiores, como no caso do operador de produção, acaba refletindo, “em maior ou menor graus”, no restante da estrutura. “Dessa forma, os cargos com maior exigência de qualificação e maiores responsabilidades também têm recebido aumentos acima da inflação, mesmo que em percentuais menores que aqueles aplicados aos cargos da base da estrutura organizacional.”
Qualificação
A pesquisa da consultoria levou em conta empresas com faturamento anual acima de R$ 200 milhões, mas empreendimentos menores, que não estão imunes ao reflexo da desacelaração da economia, também estão sofrendo para encontrar mão de obra qualificada. No restaurante Mathilde, no Bairro Santo Agostinho, o chefe-executivo Vladimir Wingler tem dificuldade para ampliar a equipe. Há um mês ele tenta preencher duas vagas para auxiliar de cozinha. “Tenho dificuldade em encontrar bons auxiliares, com perfil de futuros chefes. Com tantos cursos de gastronomia caríssimos e de péssima qualidade, as pessoas perderam a noção de que a verdadeira escola é a cozinha real, onde se prepara pratos e se troca experiências horas a fio.”
A cervejaria Devassa, com duas unidades na capital, também encontra dificuldade em expandir o quadro de funcionários. Sócia da casa, Marcelle Santana lamenta a falta de mão de obra experiente num setor tão importante para a economia da cidade – afinal BH é conhecida como a capital dos bares – e brinca ao dizer que, atualmente, a chave para a contratação em muitos estabelecimentos está na resposta à seguinte pergunta: “Você pode começar quando?”. A solução, ressalta a empresária, é treinar os funcionários, seguindo o conceito de multifunções, e aprender a trabalhar com menos colaboradores.
O sócio-diretor da Total Consultoria destaca que “custa muito menos fazer um programa específico de remuneração para reter bons profissionais do que apenas investir em programas de remuneração para evitar a evasão. A competitividade em alta e a desaceleração da economia indicam que as empresas precisam encontrar alternativas para manter suas margens. Nesse momento, o nome do jogo é produtividade”, alerta José Carlos.
Geração de emprego avança
Enquanto o exército de desempregados na Europa e nos Estados Unidos ultrapassa a marca dos 40 milhões, o sol continua a brilhar firme no mercado de trabalho brasileiro. Em julho, o país criou 142.496 mil empregos com carteira assinada, alta de 0,37% em relação a junho, segundo os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Com abertura de 19.216 vagas, Minas Gerais ficou com o segundo melhor resultado do país, depois de São Paulo. A alta foi de 0,46% frente a junho.
No acumulado do ano, de janeiro a julho, o mercado de trabalho brasileiro experimentou expansão de 3,25% em relação ao mesmo período do ano passado. Foram criados 1.232.843 mil empregos com carteira assinada. Em Minas, a expansão no mesmo período foi de 5,03%, com abertura de 202,631 vagas.
O emprego cresceu em todos os oito setores analisados pela pesquisa, com destaque para os serviços (0,25%) e construção civil (0,83%). Em terceiro lugar, a indústria de transformação registrou alta de 0,30%, atingindo a melhor média do setor para o mês desde 2003. “O resultado do mercado de trabalho vem na contramão da economia, que está em claro desaquecimento”, aponta Tharcísio Souza, coordenador do MBA em administração da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap). Ele lembra que o mercado de trabalho brasileiro apresenta números praticamente de pleno emprego, destoando da Europa e dos Estados Unidos.
José Carlos Bastos é sócio-diretor da Total, consultoria que pesquisou o ganho salarial em 40 funções |
Todas as regiões analisadas no Brasil apresentaram em julho expansão no mercado de trabalho. Com a criação de 23.951 empregos (1,42%), a agricultura ficou com a maior taxa de crescimento entre os setores. Em Minas, o avanço do mercado foi empurrado principalmente pela construção civil, que abriu 5.783 postos de trabalho e serviços, com 4.355 contratações. “Apesar da desaceleração da economia mundial, os investimentos públicos como as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) criam dinamismo. O que preocupa é a desaceleração da indústria. O país precisa se defender para não exportar empregos”, diz Adriano Porto, coordenador do curso de economia do Centro Universitário Newton Paiva.
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