quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Copa traz a BH ameaça de atentado terrorista Contando com benefícios trazidos pelo Mundial, cidade precisa se habituar também com o ônus do evento. Para se prevenir contra possíveis atentados, estado seleciona agentes para central de inteligência e maiores ameaças já estão identificadas. A principal está ao lado do Mineirão


Publicação: 07/11/2012 06:00 Atualização: 07/11/2012 07:08
Vanderley de Vasconcelos, que chefia a Divisão de Meio Ambiente e Rejeitos do Centro de Desenvolvimento  de Tecnologia Nuclear, diz que a atual estrutura de segurança, que protege pontos vulneráveis como o reator, precisa ser reforçada para os eventos internacionais (euler junior/EM/D.A Press)
Vanderley de Vasconcelos, que chefia a Divisão de Meio Ambiente e Rejeitos do Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear, diz que a atual estrutura de segurança, que protege pontos vulneráveis como o reator, precisa ser reforçada para os eventos internacionais

Um ataque terrorista em plena Pampulha ou a ação de um atirador contra alvos estrangeiros de passagem pela capital mineira parecem situações distantes da realidade de quem vive em Belo Horizonte. Mas a cidade deve começar a se acostumar com esse tipo de preocupação, que chega na bagagem dos dois maiores eventos esportivos da história de BH: os jogos das copas das Confederações (2013) e do Mundo (2014). Com pouca experiência em conflitos de maiores proporções – o último episódio foi há seis anos, no encontro anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), envolvendo manifestantes de movimentos sociais e a polícia –, a cidade se mobiliza para garantir a segurança de brasileiros, visitantes do exterior, atletas e autoridades de vários países. Para isso, começa a ser articulada uma espécie de “CIA mineira”, uma central de inteligência com agentes de elite recrutados entre os melhores integrantes das forças de segurança do estado. E essas corporações já identificaram duas ameaças como as mais sérias para a capital mineira. A primeira seria um ataque ao Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), dentro do câmpus da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a apenas 510 metros do Mineirão. Outra ação, contra a qual se previnem também as demais cidades-sedes, são os atentados de terroristas com armamentos leves em hotéis e centros de convenção.

A informação sobre esses alvos parte de fontes ligadas à defesa nacional e foi confirmada por integrantes do grupo estadual que organiza a segurança dos eventos. Segundo essas fontes, a presença na capital mineira de delegações de países envolvidos em conflitos políticos, ideológicos, econômicos e religiosos é o que desperta maior temor em relação a esses alvos. O consultor de inteligência e segurança pública da Secretaria Extraordinária para a Copa do Mundo de Minas Gerais (Secopa), Wilson Chagas Cardoso, afirma que ainda neste mês serão recrutados agentes das polícias, bombeiros e sistema prisional para formar a Agência Mineira de Inteligência. 

Parte desse pessoal ajudou a identificar os riscos para as competições. “O governador Antonio Anastasia está preparando o decreto e devemos começar a trabalhar em janeiro. É uma iniciativa pioneira no Brasil, para prever os riscos e tomar providências de forma antecipada”, disse, sinalizando que os eventos trarão para a cidade, além de obras, benefícios financeiros e visibilidade internacional, também exigências com as quais a capital não está habituada. “Identificamos várias ameaças, entre criminosos locais e terroristas, mas tudo depende de quais seleções jogarão aqui. Há aquelas que podem representar riscos específicos”, afirma.

Para impedir ataques de atiradores empunhando armas leves, como pistolas e rifles em locais de grande concentração de pessoas, é necessário investigar potenciais ameaças entre a comunidade estrangeira residente, estudantes e viajantes. O monitoramento da entrada deles no país por aeroportos e fronteiras, assim como sua articulação no território mineiro, seria facilitado pela criação do organismo centralizado. “Tendo uma agência central fica fácil articular informações com o Exército, a Polícia Federal e os outros estados”, disse o consultor. A agência funcionará na Cidade Administrativa e será mantida após os eventos. Durante as copas, entrará em funcionamento o Centro Integrado de Comando e Controle de Minas Gerais, no Bairro Gameleira, Região Oeste. Ao custo de R$ 51 milhões, a estrutura terá 10.000 metros quadrados e integrará trabalhos da Polícia Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Federal, Guarda Municipal, BHTrans, Defesa Civil, Infraero e CBTU durante os jogos.

Segurança para risco nuclear
 (euler junior/EM/D.A Press)
A necessidade de ampliar a segurança das instalações nucleares do CDTN durante os eventos esportivos pode trazer repercussões negativas até ao aeroporto da Pampulha. Durante a realização da Copa das Confederações e da Copa do Mundo, o centro de desenvolvimento nuclear acha prudente que a Aeronáutica feche o espaço aéreo sobre suas instalações no câmpus da UFMG, a apenas 510 metros, em linha reta, do Mineirão. Infraero e Aeronáutica não quiseram avaliar impactos da eventual adoção dessa providência, mas fontes ligadas ao setor da aviação avaliam que é grande a possibilidade de prejuízo aos voos locais, que deverão ser ampliados justamente por causa dos jogos.

O CDTN também exige medidas extras de segurança, como o reforço de um contingente do Exército em torno do centro e restrições de acesso ao local. “Acreditamos que nossa segurança, hoje, é muito boa. Mas, como se trata de um evento dessa envergadura, medidas adicionais precisam ser tomadas”, disse o chefe da Divisão de Meio Ambiente e Rejeitos da instituição de pesquisa, Vanderley de Vasconcelos.

 Entre o bandejão e a Faculdade de Veterinária da UFMG, o CDTN é de longe o local mais seguro dentro do câmpus, com entrada restrita, cercas e cancelas. Mas a estrutura não seria obstáculo a uma ação mais determinada de grupos extremistas. São apenas quatro seguranças particulares, armados com revólveres calibre 38, coletes balísticos de menor capacidade e rádios, para vigiar o complexo de quatro edifícios que abriga aparelhos movidos a energia nuclear. 

Ainda assim, de acordo com Vasconcelos, uma ação dificilmente levaria perigo aos arredores. “O reator está no nível do solo, sob uma piscina de resfriamento. Se o prédio inteiro cedesse, ele seria soterrado. Remover o combustível nuclear seria uma operação extremamente técnica e demorada”, avalia. A potência do equipamento é pequena, de 100 quilowatts térmicos, mas em caso de remoção os locais deveriam ser isolados, materiais contaminados reunidos e encarcerados em barreiras de concreto e metal. A preocupação com contaminação atômica é uma realidade, e já há uma equipe incumbida de monitorá-la. “Nos jogos atuarão entre 30 e 40 agentes do CDTN com aparelhos que detectam radiação à distância. Diante de qualquer suspeita se isola o local, para que o perigo seja avaliado”, informa Vanderley de Vasconcelos. Nos Jogos Panamericanos do Rio esse monitoramento identificou 40 casos de riscos potenciais, mas nenhuma ameaça real foi confirmada.

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