quinta-feira, 28 de março de 2013

Dengue avança ainda mais e mata em BH


A escalada da dengue »BH tem 1.545 novos casos em uma semana, mais de 200 por dia. Secretaria de Saúde confirma duas mortes pela doença na capital. Epidemia sobrecarrega Funed, que já fez 63 mil exames este ano

Publicação: 28/03/2013 06:00 Atualização: 28/03/2013 07:05
excesso de trabalho - Técnica da Funed mostra geladeira com amostras que serão analisadas para confirmar dengue (gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
excesso de trabalho - Técnica da Funed mostra geladeira com amostras que serão analisadas para confirmar dengue


A dengue mata e deixa mais pessoas doentes em Belo Horizonte. No dia em que novo balanço apontou mais 1.545 casos em uma semana, média de 220 por dia, a Secretaria Municipal de Saúde confirmou que duas mortes ocorreram por causa da doença na capital – as duas vítimas eram mulheres, moradoras dos bairros Sagrada Família e Califórnia. A situação de epidemia, reconhecida pelo governo de Minas e pela Prefeitura de Belo Horizonte, se reflete até na Fundação Ezequiel Dias (Funed), que está está sobrecarregada: desde janeiro, a média de amostras que chegam ao laboratório é de 700 por dia, contra 500 por mês em épocas de menor incidência da dengue. 

“Os casos estão realmente disseminados. A população, numa epidemia, costuma achar que todos os sintomas são de dengue. Mas a grande maioria das amostras realmente são positivas”, diz Maira Alves Pereira, da Funed, responsável técnica pelas análises. O balanço de Belo Horizonte divulgado ontem mostra que a transmissão continua alta. Com mais 1.545 casos confirmados, o total subiu 36,6% e chegou a 5.760 casos – na semana passada havia 4.215 pessoas infectadas. O número de notificações passou de 14.591 para 23.479, aumento de 60,9%. Ainda há 15.400 pendências. O balanço  aponta também que a Região Norte da capital lidera no número de casos confirmados (1.244), seguida pelas regionais Nordeste e Pampulha . 

O quadro se agravou com a confirmação de duas mortes na capital, que elevaram para 30 o total de óbitos relacionados à dengue no estado. Como o Estado de Minas mostrou sábado, a primeira morte da capital foi de V., de 56 anos, moradora do Bairro Sagrada Família, na Região Leste, com diagnóstico de dengue com complicações. Segundo a secretaria, ela era hipertensa e contraiu a doença na cidade de Corinto. O segundo caso é o de M., de 53 anos, moradora do Bairro Califórnia, na Região Noroeste. A paciente era portadora de lúpus e deu entrada no Centro de Saúde Santos Anjos com sintomas de dengue clássica.

Para o infectologista Unaí Tupinambás, professor da Faculdade de Medicina da UFMG, o quadro é preocupante e é preciso promover melhor atendimento à população doente. “É importante frisar que a dengue tem tratamento. Num quadro de epidemia, os esforços devem ser para controlar as mortes e garantir o atendimento com salas de soroterapia, sobretudo para crianças e idosos”, defende. “Já que não foi possível controlar os criadouros do mosquito, o que seria mais eficiente antes da epidemia, é importante estimular ações para reduzir esses focos”, completa. A prefeitura anunciou que um contêiner de atendimento 24 horas começa a funcionar hoje no Barreiro – a unidade ficará aberta também nos fins de semana e feriados. Na semana que vem, a Secretaria de Saúde abre dois postos nas unidades de pronto atendimento Norte e Oeste. Nos contêineres de Venda Nova e da Pampulha, 308 pessoas já foram atendidas.

Plantão para exames  
Diante da propagação da doença, a Funed tem se desdobrado para analisar quantidade cada vez maior de amostras. Só este ano, já foram 63 mil exames. Segundo Maira Alves Pereira, as geladeiras estão abarrotadas e o volume de trabalho é maior que o de 2010, quando houve a última e mais grave epidemia de dengue do estado. A Funed, diz a responsável técnica, está analisando casos suspeitos dos hospitais de BH e de toda a Região Central do estado, mas a sobrecarga é semelhante nos laboratórios macrorregionais de Montes Claros, Uberaba, Teófilo Otoni e Juiz de Fora. Somente o laboratório de Pouso Alegre, referência para o Sul de Minas, tem recebido quantidade menor de amostras.

Por conta do aumento da demanda, a Funed fez pedidos extras ao Ministério da Saúde dos kits de análise e já montou um estoque. “Em 2010, não conseguimos a quantidade necessária e precisamos fazer uma compra de emergência”, conta Maira Pereira. Cada kit faz o teste de 90 amostras ao mesmo tempo. Há um exame mais rápido, que dura cinco horas, e o “padrão ouro”, com resultados previstos para três dias. Nesse caso, o teste é mais sensível e adequado para detectar cada tipo de anticorpo, mas também requer pessoas especializadas e mais tempo disponível. Por enquanto, as duas máquinas estão trabalhando meio a meio e a Funed ainda está mantendo o tempo de resposta em sete dias. Maira Andrade diz que os técnicos trabalham em regime de plantão, com apoio de funcionários dos laboratórios de outras especialidades para analisar todas as amostras.


Denúncias triplicam

A epidemia de dengue em Belo Horizonte faz moradores da cidade, preocupados em não contraírem a doença, denunciarem vizinhos aparentemente descuidados. Neste ano, a prefeitura recebeu 4.022 pedidos de vistoria de imóveis que possam abrigar criadouros do mosquito Aedes aegypt, segundo dados divulgados ontem pela Gerência de Controle de Zoonoses da Secretaria Municipal de Saúde. O número é quase três vezes maior que as 1.363 solicitações registradas entre janeiro e março de 2012, além de ser 23,75% superior às 3.250 ocorridas em todo o ano passado.

Todas as denúncias são verificadas por agentes da prefeitura, segundo a gerente de Controle de Zoonoses, Silvana Brandão. “A grande maioria se refere a imóveis habitados”, informa. Ela considera positivo o aumento no número de pedidos de inspeção. “A população está mobilizada. A gente espera que as pessoas nos deem retorno. A situação requer que todos façamos nosso papel, que verifiquem possíveis riscos, seja no nosso domicílio ou no de outra pessoa”, afirma. Para solicitar o serviço, qualquer pessoa pode telefonar para o Ouvidor SUS-BH (3277-7722) ou para o Serviço de Atendimento ao Cidadão (156). (Tiago de Holanda)

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