segunda-feira, 17 de junho de 2013

BH tem cada vez mais mulheres pilotando motos e fazendo parte de escuderias

Cada vez mais mulheres tomam as pistas de Belo Horizonte e dão demonstrações de educação e respeito no caótico trânsito da capital mineira em cima de duas rodas

Publicação: 17/06/2013 06:00 Atualização: 17/06/2013 07:19

Jefferson da Fonseca Coutinho
 (Leandro Couri/EM/D.A Press.)

Elas estão na pista. E dão lições de respeito no caótico trânsito brasileiro. Sobre duas rodas, em lambretas ou em supermáquinas, mulheres motociclistas encaram o asfalto com a responsabilidade de quem dá valor à vida. Com paixão, charme e elegância, as belas das motocas se multiplicam estrada afora. Nos passeios em rede social ou no dia a dia de trabalho, as motoqueiras responsáveis são exemplo. Conscienciosas, elas nada têm a ver com a estupidez nos corredores das grandes metrópoles, que, em 10 anos, fez o número de mortes em acidentes de trânsito com motos no Brasil subir 263,5% – de 3,1 mil para 11,3 mil –, segundo o Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde.

Impossível Riesa Barbosa de Senna, de 40 anos, não roubar a cena por onde passa. A engenheira fica ainda mais bonita em cima de sua Harley Davidson luminosa. Desde os 27 anos, quando teve sua primeira máquina 250cc, a engenheira, de olhos verdes e sorriso cativante, já passou por seis modelos. Moradora do Bairro Funcionários, na Região Centro-Sul da capital, Riesa considera péssimo o trânsito de Belo Horizonte. Diz não gostar de pilotar nas ruas da cidade e, na medida do possível, procura usar a moto apenas para os passeios. Em maio, durante nove dias, Riesa e outros 16 motociclistas brasileiros percorreram 2 mil quilômetros da célebre Route 66, de Chicago até Los Angeles, nos Estados Unidos.

A engenheira comenta a “diferença gritante” da educação e condição de trânsito percebidas no exterior. “Nos EUA, as pessoas param para você passar. Nem é obrigatório o uso de capacete e as pessoas usam os equipamentos de segurança por cuidado e respeito à vida.” Riesa destaca que as vias são “todas muito bem cuidadas”. Entretanto, revela que o que mais a impressiona fora do Brasil, em terras de mais cuidado entre os cidadãos, é a educação. “As pessoas se respeitam e, no trânsito, isso faz toda a diferença”, avalia. Sobre o prazer no guidão, a bela suspira: “Quando você está de carro, você vê a paisagem. De moto, você faz parte dela”.

Paixão
Alice Castro Monteiro, de 46, há 35 anos em Brasília, no Distrito Federal, começou a vida sobre rodas na garupa do avô, numa lambreta. A bancária é uma das administradoras de grupo de sucesso na internet, com centenas de seguidoras no Brasil e no exterior – Mulheres Motociclistas e Apaixonadas por Motos. Mineira de Belo Horizonte, diz-se orgulhosa da condição de “motoqueira”. Motoqueira ou motociclista? “Motoqueira. Não tenho nenhum preconceito. Antigamente, todo mundo era motoqueiro. Agora é que criaram essa distinção, por causa dos motoboys. Nosso grupo é inclusivo. Não tratamos ninguém com diferença”, ressalta.

Apaixonada por máquinas desde a infância, Alice tem carteira de habilitação AB. “Dirijo caminhão também. Por que não?”, sorri. Ela critica as escolas de direção. Para a bancária, nenhuma autoescola prepara o motoqueiro para o trânsito. “Se não bater num cone e colocar o pé certo no chão, você está habilitado. Não pode ser assim.” A bancária considera a moto o menor problema. “O mais grave está no entorno de quem está no comando de uma motocicleta. É tudo que envolve o trânsito: educação, comportamento e postura.”

“Para nós, mulheres, não basta pilotar. Temos que pilotar bonito. Às vezes, até nos recriminam pela nossa falta de ousadia. A gente se cuida e cuida do outro. Nossa ousadia fica para a hora certa”, diz Alice. Ana Lobo, de Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, é outra administradora do grupo Mulheres Motociclistas e Apaixonadas por Motos, do qual Alice faz parte. Ana, o marido e o filho, todos empresários, não abrem mão de suas máquinas. Ela tem uma BMW R800F. O marido, Marcelo, de 43, tem duas Harleys, uma 1.200 e outra C.V.O.

No carnaval, o casal pilotou até Recife, em Pernambuco. No ano passado, Ana esteve em Daytona, cidade do estado da Florida, nos Estados Unidos. Lá, participou do Daytona Bike Week, o maior encontro de motociclistas do mundo. “É uma sensação incrível de liberdade. É maravilhoso quando estou pilotando”, considera a ladie. A paixão da família é tamanha pelas máquinas que a casa em que moram, no Condomínio Alphaville, acaba de passar por reforma para integrar as motocicletas ao ambiente. “Agora, nossas motos ficam dentro de casa”, alegra-se.

Riesa Barbosa de Senna, de 40 anos, engenheira (Leandro Couri/EM/D.A Press.)
Riesa Barbosa de Senna, de 40 anos, engenheira
Integração além das montanhas de Minas

Motociclista desde os 19 anos, Isabel Meirelles Rezende, de 54, acabou de ter a moto Honda Falcon 250cc roubada num estacionamento da Avenida Cristiano Machado. O aborrecimento só não foi maior porque em casa também tem uma Harley Davidson 1.200, com a qual tem viajado pelo Brasil. O último passeio foi para Florianópolis, em Santa Catarina. Isabel não tem carro por opção. Procura manter sempre duas motos. Uma para passeio e outra para a cidade. A professora de história, além de participar do grupo Mulheres Motociclistas…, faz parte do motoclube Medusas, com 26 integrantes além das montanhas de Minas.

“Uma paixão sem razão”. Assim, a bela Fabíola Evelyn, de 31, define seu amor pelas motocicletas. Dona de uma Harley de 1.600 cc e 310 quilos, a policial civil faz duras críticas ao motorista brasileiro, especialmente o de Belo Horizonte, cidade que ela conhece muito bem. “Muitos não aceitam a gente pilotando corretamente atrás dos carros. Eles jogam a gente para os corredores. É muita maldade. A palavra é essa: maldade.” Para Fabíola, corredor é apenas para o trânsito parado. A policial vê o motorista como “egoísta”, preocupado apenas com o próprio umbigo.

Fabíola é outra motociclista, dama de cuidados e responsabilidade, que não acredita no ensino das autoescolas. Ela revela que, consciente, logo que conseguiu sua habilitação, aos 25 anos, passou duas semanas pilotando na companhia de amigos experientes para ganhar segurança. Integrante do grupo Diablos, a policial sugere reforço em matéria de cidadania nas escolas. “A questão passa pela educação. Em muitas autoescolas, por exemplo, os instrutores não estão preparados para ensinar”, critica.

ANTIQUADOS A empresária Ana Paula Moura, de 48, concorda com Fabíola em relação à falta de educação no trânsito. “O problema é o mineiro. Ele é tão antiquado que, quando é ultrapassado por uma mulher, acelera, incrédulo, só para conferir se foi ultrapassado por uma mulher mesmo. Os motoboys são ainda piores”, considera. Há um ano sobre uma BMW GS 650, Ana Paula diz que o amor pela velocidade está no sangue. Filha e neta de motoqueiras, a empresária lamenta a fama de irresponsabilidade que a estupidez de muitos acaba promovendo.

Alice Castro, de 46, bancária (Maria Alice)
Alice Castro, de 46, bancária
Uma filosofia de vida

É uma mulher a presidente do Aguias de Aço em Minas Gerais. Desde 1980, o grupo reúne 70 motociclistas e é muito respeitado em todo o Brasil. Jacqueline Lipovetsky, de 50, é filha do lendário Capitão Senra, motociclista até hoje na ativa, que já rodou meio mundo pilotando. Quando ganhou seu primeiro ciclomotor, sem dar conta de tamanha euforia, a bióloga rodou 80 quilômetros num único quarteirão. Hoje, emociona-se ao falar do sonho motorizado herdado do pai, seu ídolo maior, fundador do Águias de Aço.

Jacqueline, com a autoridade de quem vive o assunto desde criança, lamenta o uso indevido e irresponsável das motocicletas no Brasil. “Quem não conhece o nosso jeito de pilotar pensa que somos todos iguais. O motoqueiro criou um estigma para o motociclista. Tenho medo dos motoboys. Esta semana mesmo um deles chutou o retrovisor do meu carro.” A bióloga defende penas maiores para os infratores no trânsito. Longe da estupidez, na mesma rede social, Júnia Baroni Rainato, de 50, ainda comemora o sonho realizado há dois anos, quando entrou para o seleto grupo das motociclistas. “Um sonho de liberdade. Uma família”, ressalta.

Renata Perigolo Guerra, de 33, vê na paixão pelas motocicletas um forte laço de união com o marido, Marcelo Penna Guerra. A engenheira e o economista, parceiros dos “melhores passeios”, estão ainda mais próximos por meio das motocas. “De início, em Belo Horizonte, queria uma moto para trabalhar. É gostoso, barato, rápido e prático. Comecei com uma scooter. Hoje, com nossas Harleys, descobrimos um outro lado, em grupos, com amizades sólidas e muito bonitas”, comenta. É uma grande família, segundo Renata, unida por duas rodas e um sonho de liberdade.

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