quinta-feira, 19 de abril de 2012

EM flagra taxistas tomando cerveja e até cachaça em seis bares de BH


Depois de beber, eles voltam aos carros para trabalhar no trânsito
Publicação: 19/04/2012 06:00 Atualização: 19/04/2012 07:21
Taxista toma cerveja com mulheres após deixar carro na porta (Mateus Parreiras/EM/D.A Press)
Taxista toma cerveja com mulheres após deixar carro na porta
A fila de táxis estacionados na porta de um bar no Centro de Belo Horizonte pode parecer uma opção de transporte para frequentadores que consomem bebida alcoólica e evitam dirigir. Mas, em vez de receber passageiros, três taxistas de uma cooperativa desembarcam, trancam os carros e se misturam entre garçons, porteiros, operários e outros fregueses. Eles seguem para o fundo do bar, onde o balconista conhece a turma e é elogiado ao levar cervejas e uma porção de pernil. Mesmo com uniformes de uma grande cooperativa, eles bebem, riem alto e contam casos despreocupados. Em seguida, saem dirigindo seus táxis. A conduta desses taxistas flagrados pelo Estado de Minas atropela duplamente a Lei Seca, não só porque é proibido dirigir depois de beber, mas porque as campanhas de trânsito orientam motoristas que vão beber a sair e voltar para casa de táxi.

Durante duas noites, nas ruas do Centro e regiões Leste, Nordeste e Noroeste de BH, o EM encontrou pelo menos uma dúzia de taxistas se aproveitando da falta de fiscalização, como a do bafômetro, para beber em bares que servem refeições a quem trabalha à noite. Eles intercalam a farra com as corridas com passageiros. Os encontros ocorrem com mais frequência às segundas e terças-feiras, a partir das 23h. Em turmas e até sozinhos, eles bebem cerveja e cachaça, invariavelmente assumindo depois o volante de seus táxis. Não recusam corridas, já que alguns foram vistos embarcando passageiros nas proximidades dos bares.

 “Muita gente não respeita mesmo. Se a corrida estiver fraca, esses irresponsáveis param nos bares conhecidos e ficam lá chapando (se embriagando) até dar a hora de acabar um evento, um show, ou de ir embora. Se aparecer passageiro, pegam mesmo”, conta W., ex-taxista, que diz ter testemunhado muitas farras. “Uma vez por ano a cooperativa faz  churrasco. O pessoal joga bola e bebe o dia inteiro e depois sai bicudo (embriagado) dirigindo o táxi, porque sabe que a polícia não para em blitz com bafômetro”, denuncia.

A reportagem identificou pelo menos seis bares na cidade onde o movimento de taxistas consumindo álcool é intenso. O mais movimentado fica na Rua Espírito Santo, entre a Avenida Amazonas e a Rua Caetés. Uma fila dos veículos brancos se forma em frente ao estabelecimento pequeno e apertado onde vale tudo para encontrar espaço para as garrafas de cerveja. Entre os frequentadores, taxistas apoiam copos e bebidas até sobre lixeiras. Bebem, conversam com prostitutas, hóspedes dos hotéis dos arredores, flanelinhas e vão embora em seus carros.

Menos de um quarteirão adiante, na Rua Caetés, entre as ruas da Bahia e Espírito Santo, os motoristas de uma cooperativa são mais discretos. Apesar de deixarem os carros estacionados na porta do estabelecimento, vão para os fundos do longo balcão de atendimento para tomar cervejas com privacidade. O ambiente é movimentado.

Na Região Leste os taxistas costumam consumir bebidas na escuridão da Praça Duque de Caxias, em Santa Tereza. Mas o maior volume de condutores que desafiam a Lei Seca naquela região se concentra num restaurante da Rua Jacuí, entre ruas José Clemente Pereira e Pio XI, no Bairro Ipiranga. Mesmo a menos de 200 metros do Sindicato dos Taxistas (Sincavir), os motoristas ingerem álcool sem aparentar receio de serem pegos. Ontem, um taxista foi visto de bermudas, o que é proibido, descendo até o bar onde bebeu acompanhado de duas mulheres por duas horas e meia. Em seguida, foram embora juntos no táxi.

O doutor em engenharia de Transportes e diretor da consultoria ImTraff, Frederico Rodrigues, se mostrou surpreso ao saber da atitude desses taxistas. “É decepcionante. Quando as coisas parecem estar caminhando no Brasil, as pessoas ganhando consciência ao dirigir, um grupo toma uma atitude dessas e mina toda uma campanha. A conscientização demora, mas uma coisa dessas é rápida em destruir”, alerta.

Vítima da imprudência de um taxista, o gerente de posto de combustíveis Otávio Henrique Soares Mesquita, de 23 anos, lembra dos momentos tensos que passou. “O taxista estava exalando álcool, completamente bêbado. Estávamos voltando de uma festa na madrugada e ele corria e cantava pneus. Pedimos para reduzir. Ele disse que tinha de fazer mais cinco corridas antes de entregar o carro e, se quiséssemos, tínhamos de descer no meio da rua”, conta. O gerente disse que tentou denunciar a atitude. “Liguei na cooperativa e eles disseram que o carro tinha sido sublocado para uma pessoa que não era da cooperativa, por isso não podiam fazer nada”, afirma.

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