domingo, 29 de julho de 2012

Cuidado é armadilha. Em programa de fidelidade, geladeira sai por R$ 458 mil


Operadoras de cartão de crédito exigem milhares de pontos nas trocas
Publicado no Jornal OTEMPO em 29/07/2012
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PEDRO GROSSI
foTO: FOTOS: ANGELO PETTINATI
José David se decepcionou quando foi abastecer com pontos
Viagens, eletrodomésticos, artigos eletrônicos, descontos. A lista de benefícios é grande e a de estabelecimentos que oferecem prêmios pela fidelidade dos clientes é ainda maior - vai de postos de gasolina a companhias aéreas. Mas, para o consumidor, esses brindes podem ser iscas para a armadilha do endividamento e do consumo exagerado.

"Não é qualquer programa de fidelidade que vale para qualquer pessoa. Quem muda os hábitos de consumo para acumular pontos e ganhar um ‘prêmio’ no final corre o risco de se endividar e o que era benefício acaba virando dor de cabeça", explica o especialista em planejamento financeiro da WG Finanças Pessoais Lucas Radd.

O programa de fidelidade dos cartões de crédito Bradesco, por exemplo, oferece a troca dos pontos acumulados por produtos, viagens e diárias em hoteis. No sistema, cada dólar gasto (ou o equivalente em real na cotação do dia) no cartão de crédito vale 1 ponto no programa. Para trocar os pontos por uma máquina de lavar, que no mercado custa, em média, R$ 1.200, o cliente tem de ter acumulado 125.700 pontos - o que significa um gasto superior a R$ 250 mil no cartão de crédito em até três anos (validade dos pontos) e representa uma fatura de R$ 7.000 todo mês. Já uma geladeira, precisaria de 229.400 pontos para ser trocada, o que seria R$ 458 mil. "Alguém que não faça esse cálculo, que não tenha esse perfil de consumo e fica apenas atraído pela possibilidade de ganhar uma máquina de lavar pode mergulhar no endividamento. Só o pagamento de juros de um crédito rotativo, por exemplo, hoje na casa dos 13% ao mês, já paga o prêmio", exemplifica Radd.

O programa do Bradesco é parceiro do programa de milhagens da TAM e o cliente do banco pode também trocar seus pontos por passagens aéreas. Uma viagem de ida entre São Paulo e Londres, que custa entre R$ 1.500 e R$ 2.000, vale 103 mil pontos, ou R$ 206 mil gastos no cartão.
Cliente "fiel" de vários programas, o administrador de empresas José David Gonzaga se diz decepcionado. "Tinha 60 mil pontos na milhagem da TAM e quando fui tentar resgatar para uma viagem que vou fazer a Espanha, me disseram que eu precisaria ter no mínimo 100 mil pontos", conta. Nos postos de gasolina Ipiranga, a decepção foi parecida. "Só abastecia no Ipiranga para acumular pontos. Quando cheguei a 3.000 fui tentar trocar por alguma coisa, e me disseram que eu teria direito a R$ 10 de desconto no próximo abastecimento", reclamou. "Agora, não sou fiel mais a nenhuma empresa".

Segundo Jerônimo dos Santos, diretor de Marketing da Ipiranga, "os critérios para descontos são distintos e dependem da atratividade do benefício e da negociação com os parceiros".
O Preço da Fidelidade
Pontos e milhagens estão sujeitos às regras do CDC
Mesmo sendo concedidos "sem custos" para o cliente, os pontos ou milhagens dos programas de fidelidade das empresas estão sujeitos às mesmas regras do Código de Defesa do Consumidor.

Ao remarcar a data de uma passagem aérea, o jornalista Bruno Marques teve descontado do seu saldo de pontos de milhagem o equivalente a dois trechos. "Me estornaram o valor da passagem no cartão de crédito, mas ignoraram as minhas 20 mil milhas", contou. "Tentei resolver o problema com a TAM de todas as maneiras, até usei aquele espaço ‘fale com o presidente’, mas não tive nenhum retorno. Às vezes eu pagava mais caro pra voar TAM e acumular milhas, mas agora não faço mais isso".

O presidente da Comissão de Direito do Consumidor da OAB-MG, Bruno Burgareli, explica as obrigações da empresa. "As milhas ou pontos estão no contrato de consumo e o cliente tem todos os direitos. As exceções precisam estar explícitas no termo de adesão em caixa alta e em fonte 12 para serem válidas". (PG) 

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