quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Moradores estão em alerta na Rua Patagônia por causa de muralha que pode cair


Muralha construída pela prefeitura para evitar desmoronamentos de terra sobre a via, entre os bairros Sion e Belvedere, no Centro-Sul de BH, ameaça ceder, assustando os moradores

Publicação: 23/08/2012 06:00 Atualização: 23/08/2012 06:44
Toneladas de blocos de pedras e solo esfacelado ameaçam despencar da face Noroeste da Serra do Curral, entre os bairros Sion e Belvedere, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, trazendo risco de soterramento para a Rua Patagônia. O alerta é de engenheiros, geólogos e a situação é admitida pela própria Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). O muro de contenção da rua, feito pela PBH para segurar os deslizamentos, não suportou o peso do solo e pode romper. Com a proximidade da estação chuvosa, prevista para começar no mês que vem, o perigo se amplia e acelerou o processo de licitação para contenção do morro por jateamento de concreto, segundo fontes da administração municipal. Na prática, o barranco com mais de 30 metros de altura será coberto, ao custo de R$ 3,68 milhões, por uma camada de concreto armado, semelhante à estrutura que sustenta o monte sobre a BR-365, na chamada Curva do Shopping Ponteio, no Belvedere. Oficialmente, a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) informou que assinou um termo de referência para lançamento da licitação.

A estrutura instalada pela PBH para impedir que os desmoronamentos atingissem a Rua Patagônia foi uma linha de contenção de 82 metros de extensão. Esse muro é formado por colunas triplas de gaiolas de metal preenchidas por pedras, chamados gabiões. A muralha, contudo, não tem sido suficiente para segurar as movimentações de terra durante as chuvas. No dia 4 de janeiro do ano passado, depois de dias seguidos de tempestades, pedras e lama que desceram do alto do morro passaram por cima da barreira e interditaram metade da rua. Foi preciso remover toda a lama e rochas, restaurar os passeios e transplantar três postes de energia elétrica para o outro lado da via.

Agora, segundo avaliação de especialistas em solo, a força exercida pelo terreno aumentou. As gaiolas afundaram quase dois palmos, partindo o passeio em lascas grandes, separadas por rachaduras com mais de 30 centímetros. Detritos e pedras do tamanho de rodas de carros se acumulam sobre a parte alta dos gabiões, numa amostra de que a contenção já está saturada e tudo mais que deslizar corre risco de cair na rua que liga o Sion ao Belvedere. A pressão é tão grande que a linha de gaiolas que era retilínea se curvou empurrada pela terra, tomando a forma de uma barriga. De acordo com o engenheiro Euler Magalhães da Rocha, que coordenou o grupo de auxílio à Defesa Civil da capital durante as últimas chuvas pela Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (ABMS), a situação do local é crítica. “Passo por lá todos os dias e é nítido que a estrutura foi afetada. Tem de haver uma substituição ou reforço rápido da contenção. A época de se fazer isso é agora, enquanto as chuvas ainda não vieram e não ocorreu nenhuma situação trágica”, avalia.

Alternativa Na opinião do engenheiro, estudos topográficos para medir a extensão do perigo precisam ser feitos. “Primeiramente, é preciso saber qual a força que está sendo exercida sobre os gabiões para escolher a melhor forma de conter os desmoronamentos da encosta e proteger a rua”, afirma. O engenheiro não diz diretamente que a solução encontrada para o local, a linha de gabiões, foi mal selecionada pela PBH, mas dá a entender que da forma que está, a contenção não funciona mais. “Os gabiões são soluções boas para certos desafios. Não dá para dizer que não era a melhor alternativa na Rua Patagônia, mas dá para dizer que aqueles gabiões, como foram instalados, não conseguiram suportar o que tinham de aguentar”, avalia.

A aposentada Tatiana Godoy, de 54 anos, mora há 11 anos em um edifício que fica de frente para a área que ameaça desabar e romper o muro de contenção. Ela diz que quando chove, tem medo de sair da garagem ou chegar em casa e a montanha desbarrancar. “Fico de olho, preocupada. Já pedimos para a PBH tomar providências, fizemos até abaixo-assinado, mas não resolveram”, afirma. A aposentada lembra que quando os postes foram ameaçados, a Cemig arrumou tudo em 4 horas. “Foram muito eficientes, levando a fiação para o outro lado da rua. Mas nós ficamos sem solução, ameaçados pelo barranco”.

A Secretaria de Administração Regional Municipal Centro-Sul culpa os donos do terreno pelos danos. A regional informou que há uma ação fiscal contra os proprietários do terreno de 778.158 metros quadrados, em fase de aplicação de penalidades. “No início do ano, a fiscalização integrada constatou deslizamento da encosta em frente à Rua Patagônia, 220 e 240”. Os donos foram notificados a “providenciar fechamento dos lotes para impedir o carreamento de material para o logradouro público, restaurar o passeio, manter a limpeza de passeios e ruas recolhendo detritos, entulhos e terra”.

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