quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Especialistas apontam medidas para fazer frente à onda de violência na Zona Sul de BH


Desfecho de últimos casos de assalto aponta investigação como elo mais frágil da cadeia
 10/10/2012 08:07

A saída para frear a onda de violência que aterroriza moradores de bairros da Zona Sul de Belo Horizonte, onde a atriz Cecília Bizzotto foi assassinada por ladrões no último domingo, pode estar em um tripé que vem se revelando frágil na cidade, e no qual uma das peças de sustentação se mostra especialmente bamba: a investigação. Ao lado da prevenção, representada por ações de policiamento, e da mobilização da própria comunidade, a apuração eficaz dos crimes pela Polícia Civil compõe um conjunto de três vias de ação que especialistas ouvidos pelo Estado de Minas consideram indispensáveis para enfrentar a sensação de medo que se abateu sobre a Região Centro Sul da capital. Porém, os recorrentes assaltos a residências – oito desde julho, quatro apenas neste mês – demostram que, se a precaução e a ação da sociedade deixaram a desejar, o trabalho dos investigadores pouco contribuiu para a punição dos criminosos: só em dois dos últimos ataques houve prisão de suspeitos, mesmo assim por terem sido flagrados perto do local do crime. 

Ações emergenciais, como intensificação do policiamento, afirmam estudiosos do assunto, são eficazes para aumentar a sensação de segurança, mas não se sustentam por muito tempo e não resolvem o problema. Falta um planejamento de longo prazo, alertam os especialistas, e respostas ou prisões são necessárias para que os moradores não percam a confiança na polícia ou sintam-se desestimulados a colaborar. Integrante do Núcleo de Estudos Sociopolíticos da PUC Minas e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Robson Sávio considera que a violência está banalizada. Segundo ele, o assassinato de Cecília Bizzotto demonstra um momento de desorientação das polícias. “A capacidade investigativa é péssima. Tem faltado material até para coletar impressões digitais”, critica. “Por outro lado, a Polícia Militar anuncia ações, mas falta continuidade. É preciso políticas de longo prazo, baseadas em um diagnóstico bem feito”, acredita.


Classificando o roubo a residências como um crime de oportunidade, Sávio avalia que é preciso aumentar o efetivo policial, colocando nas ruas militares de áreas administrativas, mas diz que a Polícia Civil tem que dar uma resposta rápida à sociedade depois que o crime acontece. “Esses infratores só invadem as casas quando acham que vai dar certo. Provavelmente conheciam o local, já sabiam da vulnerabilidade da vítima, já monitoravam. A ação preventiva de policiamento, nesses casos, pode desestimular que as casas sejam vigiadas”, opina. 

Para o especialista em estudos de criminalidade e segurança pública, o policial precisa estar a pé, de bicicleta, conversando com os moradores e discutindo problemas do bairro. “Essa relação melhora a eficiência do trabalho policial. No entanto, o sentimento de desordem social é perverso e, às vezes, a gente vê um estranho na porta do vizinho, se isola e não denuncia. Por que as cidades pequenas têm menos crimes? É o exercício da vigilância informal. Não dá para transferir a responsabilidade, mas o cidadão precisa confiar na polícia.” 

Punição é fundamental
Especialista em inteligência, análise criminal e crime organizado, o cientista político Guaracy Mingardi avalia que é difícil prevenir crimes como roubo a residências. Por considerar esse delito “mais profissional” do que outros, como o assalto em sinal de trânsito, ele afirma que a arma de combate é a boa investigação. “Pode-se aumentar a patrulha, fazer barreiras policiais e fiscalizar carros suspeitos, mas polícia tem cobertor curto. É preciso aumentar as possibilidades de o bandido ser pego”, diz o especialista de São Paulo, cidade que enfrenta invasões a prédios de luxo e roubos em condomínios.

Mingardi integra o Fórum Brasileiro de Segurança Pública e lembra que o criminoso deixa muitos indícios em casos como o assassinato da atriz, no Bairro Santa Lúcia. “Ele entra, é visto, mexe nas coisas e deixa digitais. Sabe que não vai escapar se a polícia investigar. Basta fazer um arquivo com as descrições físicas, formas de agir, horário, região e o que procuram”, exemplifica. “Identificando as quadrilhas, é possível saber se são os mesmos criminosos e prendê-los.”

O especialista também afirma que ações pontuais não resolvem o problema. “É só o remédio para baixar a febre, mas não cura a infecção”, afirma. Mingardi avalia que o policiamento comunitário é um bom investimento, mas tem reservas quanto a projetos de participação popular. “Não funciona nas classes mais altas. Esses bairros de casas são como condomínios fechados, em que todos passam de carro e as pessoas não se veem. O que acontece atrás dos muros altos fica lá e ninguém nem percebe. Também não basta ter um policial fardado andando por ali. É preciso um policial que seja referência, que seja conhecido e tenha bastante contato. Nesse caso, o morador pode até ligar para ele.”

O secretário de estado de Defesa Social, Rômulo Ferraz, diz que o trabalho da Polícia Civil está sendo feito para apurar os últimos episódios e sustenta que os índices de roubos a residências caíram 22% entre janeiro e setembro deste ano, se comparados ao mesmo período do ano passado. Mas ele admite que o efetivo da Polícia Militar é reduzido e afirma que poderá lançar concurso ainda este ano, além de anunciar a compra de 500 câmeras do Programa Olho Vivo, para o ano que vem. “Eventos concentrados em poucos dias trazem intranquilidade justificável, e nós queremos reduzir ao máximo o problema e minimizar a sensação de insegurança. Vamos fazer uma aproximação maior da Polícia Militar com os moradores, com plano de setorização, que vai trazer visibilidade e ostensividade ao patrulhamento, reforçando policiamento comunitário”, afirma. 


Equanto isso, caçada a assassinos de atriz continua

Investigadores da Delegacia de Homicídios já sabem que os bandidos que invadiram a casa da atriz Cecília Bizzotto, no Bairro Santa Lúcia, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, costumam agir na área praticando assaltos e roubo de carros, além de ter envolvimento com tráfico. Os suspeitos seriam do Aglomerado do Morro do Papagaio e já teriam passagens pela polícia, segundo fontes ligadas à investigação. Ontem, a cunhada da vítima prestou depoimento e reforçou as suspeitas dos policiais, descrevendo o modo de agir dos bandidos e suas características físicas. Segundo a delegada Elenice Batista Ferreira, o irmão da atriz, que deve prestar depoimento novamente, e a cunhada reconheceram os criminosos em álbuns de fotos da polícia. Os agentes procuram imagens de câmeras de casas da Rua Saturno, onde ocorreu o crime, e possíveis rotas de saída do bairro. A polícia ainda aguarda os laudos periciais.

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