terça-feira, 30 de outubro de 2012

Teste caseiro de HIV pode ser usado para avaliar parceiros Estudo mostra que soropositivos mentem sobre sua condição clínica



Publicado no Super Notícia em 30/10/2012
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DONALD G. MCNEIL JR.
FOTO: ANGEL FRANCO/THE NEW YORK TIMES
Na prateleira. O teste rápido para Aids OraQuick, produzido pela OraSureTechnologies, já está à venda no mercado norte-americano
Nova York, EUA. O primeiro teste rápido caseiro de HIV acaba de chegar aos mercados norte-americanos por US$ 40 e está sendo anunciado como uma forma de saber, privadamente, se a pessoa é portadora do vírus da Aids. Alguns especialistas e defensores do teste já estão prevendo que um outro uso do OraQuick - o controle da doença nos parceiros - pode se tornar igualmente popular e até ajudar a diminuir o ritmo da proliferação da epidemia, que está se mantendo em 50 mil novas infecções a cada ano nos Estados Unidos.

Há razões para pensar que o controle dos parceiros fará alguma diferença. Estudos descobriram que uma minoria significativa das pessoas soropositivas mentem sobre sua condição de saúde ou a mantém em segredo, infectando parceiros insuspeitos.

Apesar de o fabricante do teste - a OraSure Technologies - não estar promovendo o uso do teste para o controle de terceiros, 70% dos quase 4.000 homens e mulheres envolvidos nos testes clínicos realizados pela empresa afirmaram que definitivamente ou muito provavelmente usariam o produto para esse fim. Alguns até sugeriram que a empresa venda caixas com dois testes para que os casais possam fazê-lo juntos.

"Se isso se tornar uma norma social, as pessoas podem começar a, de fato, testar seus parceiros", afirma o autor de um estudo sobre o assunto e professor de psicologia da Universidade de Columbia, Alex Carballo-Dieguez. Ele também é diretor associado do Centro de Estudos Comportamentais e Clínicos sobre HIV do Instituto de Psiquiatria do Estado de Nova York. "Nos sites de sexo agora, os homens se anunciam como ‘livres de drogas e de doenças’. Com o teste, eles poderiam se anunciar como ‘livres de DD e dispostos a provar’", pondera.

Já outros especialistas em Aids têm suas dúvidas a respeito desse uso do OraQuick. Alguns acham US$ 40 (cerca de R$ 80) muito caro para pessoas que precisam monitorar muitos parceiros. Outros dizem que homens e mulheres que não se sentem confortáveis nem para pedir que seus respectivos parceiros usem preservativo dificilmente exigiriam que eles fizessem o teste.

Outros ainda, como o renomado médico especialista em Aids Anthony S. Fauci, se preocupam que um resultado negativo dos testes vá levar as pessoas a negligenciarem o uso do preservativo, ficando vulneráveis a uma possível gravidez ou a outras doenças sexualmente transmissíveis, como a gonorreia, o HPV ou a sífilis.
"Ninguém deveria fazer esse teste e, 20 minutos depois, fazer sexo desprotegido", reforça Steven Petrow. autor do livro "Complete Gay & Lesbian Manners" (ou "Manual Completo de Gays e Lésbicas", em livre tradução).
Traduzido por Raquel Sodré

ESTATÍSTICAS
Resultado não tem precisão de 100% em caso de infecção
Nova York. O teste OraQuick para diagnóstico caseiro do vírus do HIV não é um mecanismo perfeito. Ele é quase 100% acurado quando indica que a pessoa não está infectada e ela, de fato, não está. Porém, sua precisão cai para 93% quando aponta que a pessoa não está infectada, mas ela, na verdade, tem o vírus. A falha no resultado se dá porque o indivíduo provavelmente ainda não está produzindo o anticorpo que o teste detecta.

Em uma pesquisa realizada pelo diretor associado do Centro de Estudos Comportamentais e Clínicos sobre HIV, Alex Carballo-Dieguez, com 27 homens gays, para verificar o uso do teste para o controle de parceiros, cada participante recebeu 16 testes e os usou em seus parceiros durante três meses. Nenhum deles teve um resultado positivo no OraQuick. Contudo, dos 101 parceiros testados, dez deles eram soro positivo.

Vinte e três homens ficaram com raiva quando solicitados a fazer o teste e um o jogou para longe. Um homem foi embora dizendo que gostaria de ficar sozinho e interrompeu o contato com o participante do estudo. Os homens reportaram ainda que pedir aos parceiros que fizessem o teste não estragou a intimidade do momento. Alguns pares fizeram o exame juntos e passaram o tempo de espera necessário para o resultado conversando, jogando videogame ou trocando carícias. Um homem de 47 anos achou a espera válida e reportou aos pesquisadores que "esse tempo te dá mais alguns minutos para decidir se, mesmo dando negativo, você está preparado e disposto a fazer sexo sem proteção".

Carballo-Dieguez afirma que a decisão de fazer o controle de seus parceiros depende de vários fatores, incluindo o preço do teste. A fabricante parece dividida sobre esse uso de seu produto. Os especialistas afirmam que a empresa pode temer processos de pessoas infectadas por falsos negativos. Por outro lado, "nós apoiamos, contanto que seja feito entre adultos e com consentimento", declara o presidente da companhia, Douglas A. Michael. Ele acrescentou que o rótulo do produto traria o aviso de que o teste "não deve ser usado para a tomada de decisões que podem colocar o usuário sob risco de contrair o HIV". (DGM/NYT)

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