sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Detectores de metal chegam às escolas apenas em 2013



Já com quase um ano de atraso, a Prefeitura de Belo Horizonte vai continuar a descumprir, por pelo menos mais oito meses, a polêmica lei n° 10.204, que determina a instalação de detectores de metal nas portas das escolas municipais com mais de 500 alunos por turno. A Secretaria Municipal de Segurança Urbana e Patrimonial, responsável pelo cumprimento da legislação, informou que a previsão é que os aparelhos comecem a ser instalados no segundo semestre de 2013. Segundo a assessoria de imprensa, o atraso acontece porque o estudo que vai mostrar o modelo e o método de uso ideais dos detectores ainda está em
andamento.

Os equipamentos deveriam ter começado a funcionar no fim do ano passado, após o prazo de 180 dias estipulado pela lei para que as escolas se adequassem à norma. Na época, a prefeitura prometeu a
instalação até agosto passado, o que não aconteceu.

O uso dos detectores seria uma tentativa de garantir mais segurança a professores e alunos. Ontem, por exemplo, dois adolescentes, de 14 e 15 anos, foram apreendidos com uma réplica de pistola automática dentro de uma escola na cidade vizinha de Contagem. "A maioria dos homicídios tem a participação de menores. A intenção é afastá-los das escolas", polemiza o vereador Cabo Júlio, autor da lei.

Projeto. O motivo para tanta demora, segundo a secretaria, é a realização de um estudo para avaliar os custos de cada modelo, além da melhor forma de operá-los. Segundo a assessoria da secretaria, ele definirá, por exemplo, se as escolas usarão detectores manuais ou no formato de portais.

O estudo ainda contempla uma avaliação do nível de vulnerabilidade de cada uma das 74 escolas que receberão os aparelhos. A intenção é aumentar a altura dos muros das unidades para que alunos e outras pessoas não burlem o sistema. Técnicos da secretaria foram até o aeroporto de Confins para ver como o equipamento do terminal, que servirá como referência, funciona.

Polêmica. Enquanto a solução não vem, diretores, especialistas e pais de alunos continuam a divergir sobre a eficácia dos detectores. Para a vice-diretora do Colégio Municipal Marconi, no bairro Santo Agostinho, Centro-Sul da capital, um sistema que pode atrasar a entrada dos alunos na escola é inviável. "Nossa aula começa às 7h. Que hora nossos alunos vão ter que chegar aqui?".

Para ela, o colégio, que tem 1.165 alunos matriculados, não necessita de um sistema de segurança tão invasivo. "A gente tem que pensar a ação para o espaço que ela vai ser utilizada. Ela não pode ser igual para realidades diferentes", defende.

A enfermeira Renata Rodrigues, 27, também teme a demora na vistoria dos alunos. Moradora do bairro Prado, na região Oeste, ela anda cerca de meia hora para deixar o filho Pedro Henrique, 8, no colégio Marconi, e teme ter que sair de casa ainda mais cedo. Ela ainda vê com desconfiança a real necessidade do equipamento. "Pode ajudar, mas é um pouco conflituoso porque são crianças. Acho que elas vão se sentir pressionadas, principalmente as mais novas".

O presidente do Sindicato dos Professores de Minas Gerais, Gilson Reis, também é contra. "Isso só cria uma situação de mais terror dentre das escolas", acredita.
Abrir escola para comunidade é garantia maior de segurança
A instalação de detectores de metal em escolas municipais ainda é vista de forma negativa por especialistas. Para o sociólogo e especialista em segurança pública Robson Sávio, os equipamentos têm entre as suas desvantagens o alto custo. "Além disso, esses equipamentos precisam de pessoal para operá-los e manutenção constante. A prefeitura não tem sequer condição de colocar um guarda municipal em cada escola".

Ainda segundo Sávio, o equipamento pode disparar ao detectar objetos simples, como apontadores e tesourinhas. Com o grande número de alunos, o atraso nas aulas seria inevitável. "É o tipo da solução que no âmbito da escola não tem efetividade. A entrada da arma de fogo pode acontecer em qualquer ambiente, há muitas delas disponíveis", afirma.

O professor de sociologia da educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Antônio Júlio de Menezes acredita que abrir a escola para a comunidade é uma forma mais eficiente de trazer segurança para alunos e professores. "Nós temos exemplos de escolas que se abriram para a comunidade e isso foi bastante exitoso. Se a sociedade no entorno da escola está presente, ela própria vai tentar preservar aquele ambiente e trazer a segurança para dentro dele", analisa.

Contraponto. Entretanto, há quem veja a medida como algo positivo para alunos e funcionários. "Não adianta falar que precisamos ter o direito de ir e vir, se não temos segurança. Tenho que acostumar meu filho a frequentar lugares com esse tipo de equipamento, como bancos", defende o presidente da Federação das Associações de Pais e Alunos das Escolas Públicas de Minas (Fapaemg), Mário de Assis, que classifica a questão como pedagógica.

"Mas do ponto de vista pedagógico essa visão é péssima. Imagina as crianças sendo tratadas como criminosos? A violência na escola tem uma série de outros fatores e isso vai além de qualquer medida de segurança", argumenta Sávio. (JHC)

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