quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Mineiro já está em casa no sul de mg


Estudante se recupera do trauma na casa dos pais, na cidade de Machado
Publicado no Super Notícia em 07/02/2013
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MARIA TERESA LEAL
Especial para O Tempo
FOTO: FACEBOOK/REPRODUÇÃO
Túlio e a mãe, Marlúcia, que o acompanhou em Santa Maria durante o período de internação
Já voltou para casa um dos quatro mineiros que estavam na boate Kiss, em Santa Maria (RS), na madrugada de 27 de janeiro, quando um incêndio matou 238 pessoas. Depois de travar uma luta cega e incerta pela sobrevivência dentro da boate e de passar sete dias internado, o estudante de odontologia Túlio Gustavo Magalhães, 21, finalmente se reencontrou, anteontem, com o pai João Batista e com os irmãos Plínio, 14, e César, 24, que o aguardavam com um jantar especial em Machado, no Sul de Minas Gerais.

"Não caiu a ficha que estou vivo", disse o estudante, com exclusividade a O TEMPO, por telefone, de sua cidade natal.

Tossindo e ainda tomando antibiótico por causa da pneumonia química que o acometeu, o jovem relembrou os horrores daquela noite. "Deus usou a mão de alguém para me salvar", disse, sobre o desconhecido que o tirou de dentro da boate e chamas.

Filho de comerciantes, Túlio está prestes a se tornar dentista pela Faculdade de Odontologia de Varginha. A formatura está marcada para este semestre. Durante as férias de janeiro, ele foi à cidade do Rio Grande do Sul atrás de uma "experiência de trabalho". Em parceria com um amigo, alugou um apartamento e aguardava a resposta de contratação em Santa Maria.

Na madrugada do domingo, dia 27, ele tinha saído com colegas para jantar, mas o restaurante que escolheram estava lotado. "Então, descemos a rua e vimos que tinha festa na boate Kiss". Lá dentro, foram para a área Vip, no mezanino.

Não havia 40 minutos que estavam lá dentro quando o fogo começou. "Olhei e vi uma chama pequena, no teto, bem próximo ao palco. Mas não me preocupei porque achei que seria rapidamente controlada", conta. De repente, ele e os amigos sentiram uma forte onda de calor, como se fosse "o sopro de uma fogueira gigante". A luz apagou-se e, a partir, daí "tudo aconteceu muito rápido".

Nessa hora, Túlio tentou puxar o ar e sentiu queimar-se por dentro. Entendeu que não deveria respirar até encontrar a saída. "Comecei a ficar tonto. Não ouvia gritos, nem vozes, apenas o barulho de copos se quebrando e de corpos caindo". O estudante conta que tentou se equilibrar, mas chegou um momento em que, onde colocava o pé, pisava em algum corpo.

O estudante desfaleceu e não sabe dizer quanto tempo ficou ali, até sentir uma mão o puxando pelo tornozelo. Quando acordou, estava do lado de fora da boate, com os olhos queimados e muita dor no peito.
SOBREVIVENTES
Mais seis feridos recebem alta
PORTO ALEGRE. Mais seis vítimas do incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS), receberam alta de hospitais do Rio Grande do Sul, de acordo com boletim da Secretaria de Saúde do Estado divulgado ontem. Com isso, caiu para 75 o número de feridos ainda hospitalizados em quatro cidades gaúchas.

Desses, 21 ainda precisam de respiração mecânica e são considerados casos mais delicados.
Com exceção de um, em Santa Maria, todos esses pacientes estão na capital gaúcha.

Há uma semana, havia 142 pessoas internadas, sendo 82 com ventilação mecânica. Desde a terça-feira da semana passada, quatro jovens hospitalizados acabaram morrendo em hospitais de Porto Alegre. Ontem, foi enterrado em Santa Maria o corpo de Pedro Almeida, a 238ª vítima do incêndio.

Anteontem, o secretário da Saúde, Ciro Simoni, afirmou que há uma "progressão acentuada" do estado de saúde dos pacientes, embora ainda existam "casos muito graves". A secretaria tenta criar uma rede assistência para monitorar e acompanhar pacientes que receberam alta.

Um dos feridos em Porto Alegre está usando uma espécie de pulmão artificial na internação, emprestado pelo governo canadense. 
FOTO: MAURÍCIO BARBOSA/AGÊNCIA RBS/ESTADÃO
Ontem foi enterrado, em Santa Maria, o corpo de Pedro Almeida
SUPERAÇÃO
Futuro dentista quer voltar ao local
Após ser retirado do interior da boate em chamas, Túlio Magalhães conta que foi para casa, que fica nas imediações, sozinho, escorando-se em muros. Com os olhos feridos e sem enxergar, tocou em vários apartamentos, a ermo, e justamente o amigo com quem dividia a morada atendeu: "Abre, que eu estou morrendo", disse.

O colega, que não sabia o que estava acontecendo, o ajudou a subir, mas logo percebeu que era preciso levá-lo ao hospital. "O hospital estava um caos, com feridos e mortos espalhados por toda parte", diz Túlio, que encontrou, nessa hora, uma médica conhecida, que o colocou para dentro e iniciou o atendimento médico de urgência. "Tive sorte. Ela fez os primeiros socorros e me colocou no soro".

Logo depois, Túlio foi levado ao bloco cirúrgico porque precisava tomar um medicamento direto no pulmão. De volta ao quarto, a mesma médica ensinou a seu acompanhante um exercício expectorante para ajudar a eliminar fuligem. "Saíram umas bolas pretas. Fiquei dias cuspindo essas coisas, com um gosto horrível na boca e muita dor", diz.

Túlio acha que a boate Kiss "é a cara do Brasil". "É um misto de corrupção, desleixo e de gente que só pensa em dinheiro", diz. Ele espera que o caso não fique impune e que sirva para as pessoas pensarem que, se existem leis, é para que sejam cumpridas.

Apesar do susto, ele planeja se formar e, se a proposta de trabalho ainda estiver valendo, voltar a Santa Maria. "É uma cidade muito boa, com pessoas da melhor qualidade". (MTL

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