quarta-feira, 6 de março de 2013

Favelas consomem o equivalente à bolívia


Potencial de compra dos moradores das comunidades do país triplicou em 10 anos e hoje é de R$ 56,6 bi
Publicado no Super Notícia em 06/03/2013
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JANINE HORTA
FOTO: MARIELA GUIMARÃES - 10.1.2013
De 2002 para 2013, percentual de moradores de classe média cresceu de 37% para 65%
"Nunca vi tanto empresário interessado em investir em favela", diz o morador do morro do Papagaio, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, Francislei Henrique Santos, 35, mais conhecido como DJ Francis. Ele esteve ontem no Rio de Janeiro para acompanhar o lançamento da Favela Participações, a primeira holding do mundo voltada para favelas.

A explicação para o crescente interesse é simples: os empresários já vêm mapeando há algum tempo esse universo para saber se vale a pena investir nesse mercado. E já descobriram, por meio de uma das empresas integrantes da holding - a Data Favela, braço do Instituto Data Popular - que os moradores das favelas brasileiras consomem cerca de R$ 56 bilhões por ano, o que equivale ao Produto Interno Bruto (PIB) da Bolívia.

De acordo com o estudo do Data Popular, esse potencial de consumo triplicou nos últimos dez anos. No entanto, apesar do enorme potencial de compras dessa população, estimada em cerca de 12 milhões de habitantes, o nicho de mercado ainda é pouco explorado.

A pesquisa também revela uma significativa mudança de perfil dos moradores das comunidades. De 2002 para 2013, o percentual de moradores de baixa renda caiu de 60% para 32%, enquanto a participação da média renda subiu de 37% para 65%.

A média de escolaridade subiu de quatro para seis anos no mesmo período. E o percentual de analfabetos caiu de 51% para 33%.

Filão.

"O desafio agora é comprar coisas de melhor qualidade, pois o acesso aos produtos nós já temos", afirma DJ Francis.

De olho nesse filão, o empresário Elias Tergilene, à frente da holding Favela Participações e dono do shopping Uai, em Belo Horizonte, além de criar o primeiro shopping do país dentro de uma favela - no morro do Alemão - ele irá também abrir, no morro do Papagaio, na região Centro-Sul da capital mineira, duas unidades de correspondente bancário da Caixa Econômica Federal.

"Esses são apenas os primeiros negócios que estamos anunciando. Nosso objetivo é investir em favelas de todo o Brasil", destaca Tergilene.
Maioria gasta no próprio morro
A melhoria na oferta de serviços no aglomerado da Serra, região Centro-Sul de Belo Horizonte, foi acompanhada pela diarista Maria Auxiliadora da Silva Almeida, 51, que há mais de 40 anos vive no local.

"Eu não preciso sair do aglomerado. Afinal, temos supermercado, mercearia, açougue, farmácia, salão de beleza, loja de eletroeletrônicos. Nosso comércio é bom, bem diversificado", diz. De acordo com ela, o comércio local começou a melhorar nos últimos 15 anos. E o conforto no lar também.

Segundo pesquisa do Data Popular, com base no Rio de Janeiro, 82% dos moradores de favelas compram recarga de celular dentro da própria comunidade, 81% usa os salões perto de casa.

O estudo revela ainda que, em dez anos, o percentual de moradores com computadores saltou de 3% para 40%. "Não posso reclamar, minha casa é bem equipada. Antigamente, as coisas eram mais difíceis", ressalta Maria Auxiliadora.

E não foi só em termos de consumo que a vida dela melhorou. Um dos filhos da doméstica se formou há dois anos no curso de música da Universidade de Minas Gerais (UFMG) e é professor. (Juliana Gontijo)

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