domingo, 22 de julho de 2012

Em 17 cidades de Minas, há somente um candidato a prefeito


Publicação: 22/07/2012 08:10 Atualização: 22/07/2012 12:53
Joel, em Igaratinga: dupla oferta de espeto e só uma de prefeito (Jair Amaral/EM/D.A Press)
Joel, em Igaratinga: dupla oferta de espeto e só uma de prefeito
Igaratinga e Quartel Geral – Valdir e Joel vendem churrasquinho na Praça Central de Igaratinga, na Região Central do estado. Valdir acende a churrasqueira de quinta-feira até domingo. Joel viu uma boa oportunidade de negócio e passou a vender o churrasquinho diariamente, porém do outro lado da praça. A concorrência aumentou as escolhas dos moradores, que agora podem pagar R$ 3 no espetinho vendido por Valdir ou R$ 2,50 no comercializado por Joel. O que os moradores de Igaratinga não poderão escolher é votar em outro candidato a prefeito, pois somente o atual concorrerá nas eleições de 7 de outubro. Assim como Igaratinga, outras 16 cidades mineiras (veja mapa) terão apenas um candidato para o mais alto posto da hierarquia do Executivo municipal.

“Eleição não fede nem cheira”, diz com indiferença Valdir Alves Ferreira. Apesar de a cidade ter apenas um candidato, o atual prefeito, Fábio Alves (PDT), Valdir não revela o voto. Seu concorrente, Joel Robeiro dos Santos, pensa diferente e aprova o nome do atual prefeito para reeleição. Joel é um dos 46 candidatos a vereador, que concorrem às nove vagas na Câmara Municipal. Ele vai para as urnas como Joel da Barraca (PP). Vende entre 30 e 40 churrasquinhos por dia e no fim do expediente de quinta-feira um de seus clientes foi o prefeito Fábio Alves.

Fábio comeu o churrasquinho, mas não promete visitar todas as casas da cidade, de 9,3 mil habitantes. “Em 2008, fui de casa em casa, mas agora não terei tempo nem disponibilidade”, revela. No último pleito, ele concorreu com outros três candidatos. Entre eles havia o então prefeito, que tentava a reeleição, um ex-prefeito e o presidente da Associação de Ceramistas, setor que gera mais vagas de trabalho na cidade, concentrando cerca de 70 empresas e empregando, aproximadamente, 3 mil pessoas. O prefeito lembra que, em 2008, começou a pré-campanha cedo e, por isso, teve tempo de visitar todas as casas.

A análise de Fábio sobre o motivo de ser o único candidato é pouco humilde: “Fiz um trabalho excelente e trouxe muitos recursos para a cidade”, afirma. O prefeito destaca as obras de pavimentação de ruas, parceria com o governo federal para moradias populares e construção de escola e creche. O outro motivo, de acordo com Fábio, é o elevado grau de cobrança da população. “Você tem que estar disponível 24 horas por dia, sete dias por semana”, conta o prefeito.

Entre as promessas para a próxima administração está concluir o asfaltamento da estrada que liga a cidade a Divinópolis. Dos 20 quilômetros da via, 1,5 foi asfaltado nos primeiros quatro anos de Fábio no poder. “Foi importante para diminuir a poeira e a lama que chegavam à cidade”, diz o prefeito, argumentando que não foi o velho truque de asfaltar uma parte e deixar o restante condicionando à reeleição.


Os motivos da candidatura única são semelhantes aos apontados por Gaspar Carlos Filho, o Badaró (PDT), prefeito e único candidato em Quartel Geral, cidade de 3,3 mil habitantes, no Centro-Oeste mineiro. “A oposição não quis concorrer”, resume Badaró. Na última eleição, em 2008, a disputa foi apertada e Badaró terminou eleito com diferença de apenas 90 votos para o segundo colocado. Mesmo sem concorrência, ele pretende passar em todas as casas da cidade. Ajudado pela dimensão da cidade, iniciará a tarefa apenas no mês que vem.

José Anselmo de Faria foi contratado pela prefeitura para cuidar da renovada Praça Central. José lista uma série de feitos do prefeito, que fazem com que ele seja um fervoroso cabo eleitoral, mesmo que seu patrão não tenha concorrentes. “Se alguém precisar de um caminhão de mudança, ele dá um jeito de arrumar”, afirma José, que também destaca a construção de moradias populares na cidade. Uma frase do pensador Sêneca é destacada na Praça Central, com o jardim impecavelmente cuidado por José: “Nenhum vento sopra a favor de quem não sabe para onde ir”.

Apesar de a situação política ser totalmente favorável a Badaró, o prefeito também recebe críticas. A dona de casa Tereza Maria Mendonça reclama da falta de emprego para mulheres. Ela já tentou viver em Belo Horizonte, quando trabalhou de recepcionista, mas voltou para Quartel Geral e agora busca um posto de trabalho. “Não ter concorrente na eleição para prefeito é péssimo. Muito ruim. Pois o eleitor não tem opção e fica difícil de cobrar”, avalia Tereza.

O prefeito Badaró concorda com a observação de Tereza sobre a falta de emprego para mulheres na cidade. Diz ter tentando amenizar o problema, criando 40 vagas para varredoras de rua. Badaró sabe que não resolveu o problema totalmente, mas não há dúvida de que a limpeza das ruas da cidade é um exemplo a ser seguido. Quanto à concorrência, ele ameniza a crítica: “Não ter concorrente é bom para o político, mas compreendo que a população pode se sentir alijada do processo. Mas há vantagens, pois evita gastos excessivos com a campanha”, analisa o prefeito.

Campanha em ritmo de férias
Serra da Saudade – Não há clima eleitoral na cidade com a menor população de Minas Gerais – 815 habitantes – e a segunda menos povoada do Brasil. Serra da Saudade, na Região Centro-Oeste, terá apenas uma candidata a prefeita, Neusa Ribero (PDT), que tentará a reeleição, e 18 candidatos a vereador, ou seja, dois para cada cadeira no Legislativo municipal. Nas poucas ruas da cidade não há imagens dos candidatos e em plena época de campanha, na quinta-feira, a prefeita curtia um descanso no litoral baiano.

Pouco depois do horário de almoço, os amigos aposentados Valdemar Cardoso Silva, José Gomes Sobrinho e Euclides Martins da Costa espantavam o frio sob o sol na escada da igreja e conversavam. “A prefeita fez trem demais. Até hoje não apareceu um prefeito que fizesse tanto assim. Ela colocou no chinelo todos os homens que foram prefeitos”, afirma Valdemar. Euclides e José concordam com o amigo, mas o primeiro faz um pedido para a prefeita, que muito provavelmente será reeleita. “Aqui, precisamos de um posto de combustível. Quando vamos abastecer o carro é preciso ir a Estrela do Indaiá, o que dá 30 quilômetros de ida e volta.”

Os amigos lembram do último crime violento, que completou 40 anos neste mês, quando um cidadão foi morto após uma discussão na porta do bar. “Meu filhos vêm de Belo Horizonte e ficam com essa mania boba de trancar o carro. Já falei com eles que aqui pode até deixar a carteira em cima do carro que ninguém pega”, afirma Euclides. O cabo Carlos Júnior, um dos seis policiais militares da cidade, confirma a calmaria e diz que a polícia só é procurada para registrar ofensas verbais e brigas entre marido e mulher.

Lorena Manoela, de 18 anos, e sua tia Simone Cardoso, de 24, lamentam a escassez de empregos. “A prefeitura é praticamente a única fonte de trabalho ”, afirma Lorena, que trabalha no restaurante da família. A jovem entende que a candidatura única da cidade é boa, pois a prefeita conseguiu parcerias com cursos profissionalizantes oferecidos na cidade. Lorena quer sair da cidade e ir para Divinópolis buscar um novo posto de trabalho. Sua tia, Simone, já fez esse caminho, mas engravidou, teve o filho e voltou para a casa dos pais.

Funcionária do caixa da maior mercearia da cidade, Luana dos Santos vai tentar uma vaga na Câmara Municipal. Aos 18 anos e com o ensino médio recém-concluído, ela conta com o nome do pai, que já foi prefeito, para conquistar uma cadeira. Vai para as urnas com o nome de Luana do Paulo Nego (PSDB). “Quero conversar com as pessoas e ver o que elas precisam”, promete Luana. Caso seja eleita, ela terá um considerável aumento de renda. Além do salário mínimo que recebe para trabalhar na mercearia, passará a ganhar R$ 2,3 mil, salário previsto para os vereadores na próxima legislatura.

Mesmo com a baixa concorrência para a Câmara, Luana entende que só os votos de sua família não serão suficientes. “Devo conseguir uns 50 com eles”, calcula. Para ser eleita, ela precisará de mais, entre 70 e 100 votos. Isso porque Serra da Saudade tem mais eleitores que moradores. São 1,2 mil eleitores ante pouco mais de 800 moradores. A diferença é motivada pela elevada emigração. (DC)

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