quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Falta de leitos dificulta emissão de laudos para viciados em BH



Prefeitura nega que tenha dado ordem; uma reunião hoje vai tratar do assunto
Publicado no Jornal OTEMPO em 01/08/2012





Sem vagas no sistema público e com o temor de ter que Custear internações em clínicas particulares, a Prefeitura de Belo Horizonte estaria orientando os médicos da capital a não fornecerem laudos psiquiátricos à população, necessários para a internação de dependentes químicos. A denúncia é da Defensoria Pública de Minas Gerais, de entidades ligadas aos usuários e de famílias de dependentes.

O município nega que haja qualquer orientação neste sentido, mas uma reunião sobre o assunto está marcada para hoje - vão participar defensores e autoridades municipais. O Comitê Supervisor para Cumprimento de Medidas Involuntárias e Compulsórias, formado, dentre outros, pelo Ministério Público e pela Secretaria de Estado de Saúde, informou que está ciente do impasse e vai apurar o caso.

O laudo médico é necessário para a internação compulsória - quando não há o consentimento do paciente e não se consegue vaga pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em Minas, segundo a Secretaria de Estado de Saúde, quase 100% dos 2.700 leitos psiquiátricos disponíveis no SUS estão ocupados. Na capital, são 270 leitos. 
Dificuldade atinge internação em comunidades terapêuticas
A dificuldade encontrada pelas famílias na hora de conseguir um laudo psiquiátrico não se restringiria apenas aos leitos de hospitais públicos. Segundo o presidente da ONG Defesa Social, Robert William, o problema acontece também em internações voluntárias em comunidades terapêuticas, que exigem uma recomendação mais simples do médico e é particular – algumas comunidades são filantrópicas, mas, mesmo assim, cobram uma taxa dos pacientes.

"A prefeitura não quer hospitalizar os pacientes para aumentar o atendimento no Cersam, que funciona durante o dia. Mas há muitos casos que só são resolvidos com internação", destacou.

Sacrifício. Há mais de um ano, depois de muito sacrifício, a doméstica Jaqueline Souza, 43, chegou a conseguir um laudo para internar o filho de 21 anos, viciado desde os 16, mas não conseguiu a vaga. Desde então, ela entrou na Justiça, mas a perícia para avaliar a situação do filho foi marcada para abril de 2013. "Agora, estou correndo atrás de um novo laudo para renovar o pedido, mas está muito difícil. Já fui espancada pelo meu filho, mas nunca vou desistir dele", afirmou.
Quem também não desiste é a dona de casa Maria Augusta de Oliveira, 66, que há 20 anos enfrenta uma verdadeira luta com o filho usuário de drogas. "O médico me disse que não ia assinar a internação do meu filho e me mandou embora. Minha família já me abandonou porque não aguenta mais. Sou só eu e ele agora", contou a dona de casa. (JS)

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