segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Radares viraram armadilhas nas BRs de Minas Apesar de o Dnit anunciar que todos os radares nas BRs de Minas estão ativos, EM constata aparelhos inoperantes em estradas que continuam sem obras urgentes nem placas corretas


Publicação: 20/08/2012 06:46 Atualização: 20/08/2012 08:12
Radar sem antena e flash só serve para piorar o fluxo em trecho estreito da BR-381, a chamada Rodovia da Morte. Especialista critica eficácia de equipamento e o considera paliativo  ( (Gladyston Rodrigues/Em/D.a Press))
Radar sem antena e flash só serve para piorar o fluxo em trecho estreito da BR-381, a chamada Rodovia da Morte. Especialista critica eficácia de equipamento e o considera paliativo
Os radares que deveriam conter a velocidade dos motoristas e trazer mais segurança às rodovias federais mineiras não funcionam em sua totalidade e não vêm cumprindo a função de inibir abusos em trechos sinalizados. Sem monitoramento constante, motoristas passam em alguns dos pontos que deveriam estar sob vigilância excedendo o dobro do limite permitido. Foi o que constatou a equipe do Estado de Minas ao percorrer na última semana a BR-040 e a BR-381, as mais perigosas estradas mineiras.

O efeito prático da política que prioriza as multas em vez da ampliação da capacidade das vias tem sido a imprudência e o aumento da duração das viagens. De cada cinco radares instalados na BR-381 pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), um ainda não está em pleno funcionamento no trecho conhecido como Rodovia da Morte, entre Belo Horizonte e João Monlevade (Vale do Aço).

Dos 20 aparelhos da estrada que leva ao Vale do Aço, Espírito Santo e Nordeste do Brasil, quatro não estavam ativos na última semana, contrariando anúncio do superintendente da autarquia, José Maria da Cunha. No dia 9, em entrevista coletiva, o chefe do Dnit mineiro declarou que desde 30 de julho todos os 213 equipamentos de monitoramento estariam operando nas rodovias federais mineiras. Disse mais: que até o fim deste ano serão mais 208 máquinas para fortalecer essa política de fiscalização, totalizando 421 equipamentos, ainda que nem todos montados na primeira leva estejam aplicando multas. A previsão é de que a licitação para duplicar a Rodovia da Morte saia no próximo mês.

Logo que deixa o Anel Rodoviário de BH e ingressa na BR-381, sentido Vale do Aço, o motorista tem uma amostra de que o monitoramento não é rígido na mais perigosa estrada do estado. O primeiro radar naquele sentido, na saída da ponte sobre o Rio das Velhas, em Santa Luzia (Grande BH), não marca a velocidade de quem passa. As luzes amarelas intermitentes mostram que, apesar de estar instalada, a máquina não autua ninguém. O que continua travando os condutores e impedindo acidentes no local, ao custo de muita paciência, é o desenho apertado da pista para o tráfego pesado de carretas carregadas.

Mais à frente, três outros aparelhos fixos em postes não operam. Suas hastes vazias deveriam conter flashes de iluminação para flagrar excessos à noite e também antenas para transmitir dados. Outra condição que representa perigo para quem trafega e não conhece bem a estrada são os radares em curvas ou em locais sem sinalização. Apesar de a legislação não mais requerer que se sinalize a presença da fiscalização eletrônica, o Dnit havia garantido que manteria essa prática, para não surpreender condutores e aumentar a segurança das estradas.

Na BR-040, próximo a um dos radares, de 60 km/h, em Congonhas (Região Central de Minas) não há placas alertando sobre sua presença. Na BR-381 são dois aparelhos que aparecem sem advertência e um que fica escondido pela copa das árvores, na curva que antecede a entrada sul da cidade de São Gonçalo do Rio Abaixo.

Veja onde os radares  não funcionam (clique para ampliar)
Veja onde os radares não funcionam (clique para ampliar)
Medo de multa 


Paliativo para reduzir acidentes enquanto a duplicação das mais importantes rodovias mineiras não sai, o uso intensivo dos radares nas estradas acabou se tornando uma cômoda política na visão de especialistas. “Há dois problemas nisso: primeiro, os aparelhos não são disciplinadores, mas limitadores de velocidade em pontos críticos”, alerta o mestre em engenharia de transportes e professor da PUC Minas Paulo Rogério da Silva Monteiro.

O segundo problema que o professor detecta é o fato de alguns equipamentos de fiscalização estarem funcionando e outros não, gerando conflito entre motoristas que passam com frequência no trecho e os eventuais. “Quem não sabe tem a atitude do brasileiro com medo de multa e não de acidentes: reduz a 40 km/h no radar de 60 km/h. Quem sabe que o radar está desligado acelera e pode não conseguir desviar de quem freou”, alerta.

Foi de tanto acelerar e frear nas curvas sinuosas da BR-381 que o caminhoneiro capixaba Wellington Manuel Rabelo, de 28 anos, tombou sua carreta na quinta-feira , em uma subida sinuosa de São Gonçalo do Rio Abaixo, Região Central de Minas. Para o motorista, essa quantidade de reduções bruscas que os radares e placas de sinalização o obrigam a fazer põe à prova a resistência das amarrações das grandes cargas. “Isso vai contribuir com defeitos nos freios, enfraquece as cordas. No meu caso, a carreta virou justamente porque uma das correias arrebentou”, conta.

Sem uma das amarras, as 25 toneladas de peças de compensado que levava para o Espírito Santo escorregaram para o lado e arrastaram o veículo até o acostamento. A carreta virou e derramou 300 litros de óleo combustível de seus tanques na pista.

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