terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Primeiro temporal em BH traz os problemas de sempre


Vias inundadas, carros e motos arrastados, falta de energia, prejuízos e transtornos. Bastou uma tempestade para que a capital sofresse mais uma vez com um drama sem fim

Publicação: 08/01/2013 06:00 Atualização: 08/01/2013 07:45
Vergonha - Lixo acumulado em bueiro na Rua Ituiutaba, no Bairro Prado, virou rotina em BH (ramon lisboa/EM/D. A PRESS)
Vergonha - Lixo acumulado em bueiro na Rua Ituiutaba, no Bairro Prado, virou rotina em BH
A primeira tempestade do ano, que correspondeu a 16% do previsto para janeiro, serviu como prévia para o que pode ocorrer no  mês em pontos críticos de BH. Mais uma vez, a realidade de quem sofreu com prejuízos e transtornos foi de drama sem fim, como na Avenida Francisco Sá, palco frequente de inundação de lojas, carros e motos arrastados e pedestres correndo riscos de serem levados pela correnteza. As causas foram as de sempre: falta de escoamento da água e bueiros entupidos.

Em poucos minutos a chuva causou estragos no Prado, na Região Oeste. Na Rua Jaceguai, 10 motos e dois carros estacionados foram arrastados pela enxurrada e só pararam num grande bueiro na Rua Ituiutaba, um quarteirão adiante. O motoboy Alex Ferreira da Silva, de 42 anos, tinha 20 entregas de produtos farmacêuticos para fazer, mas apenas uma foi salva. O restante foi embora com a correnteza. A moto dele ficou danificada. “O guidom entortou e o velocímetro estragou. Tive de chamar o reboque, porque a moto não tem condições de rodar”, disse. 

Os motociclistas Marcos Barcelos, de 36, e Lucimar Fernando Vieira, de 35, tiveram prejuízos também. “O tanque da minha moto ficou arranhado. Devo gastar uns R$ 2 mil para arrumar”, contou Lucimar. Segundo Marcos, não havia como salvar os veículos: “Foi perigoso demais.”

 No cruzamento das avenidas Amazonas e Francisco Sá, a correnteza invadiu estabelecimentos comerciais e assustou até quem está acostumado com os alagamentos. De acordo com o encarregado de pátio do lava a jato da concessionária Roma Fiat, Luis Gustavo Barros, a água subiu em menos de 10 minutos e causou confusão no trânsito e medo em pedestres. “Por causa do alagamento, os motoristas voltaram na contramão. Dois carros bateram e motoboys começaram a andar sobre as calçadas”, afirmou. 

“É sempre a mesma coisa. Basta uma chuva forte para a água subir. Além do perigo dos carros e de pessoas serem arrastados, há o desconforto da água entrando na loja. Alguma coisa precisa ser feita”, afirmou a gerente de uma oficina mecânica, Ariane Simão Demétrio. 
No cruzamento da Francisco Sá com Nepomuceno, um motorista deixou o Celta e tentou atravessar a avenida. Ele quase foi arrastado, mas acabou salvo por várias pessoas com uma corda.
Prejuízos e irritação também para comerciantes do Bairro Barro Preto, no Centro-Sul. Com a falta de energia elétrica, lojistas dispensaram funcionários e fecharam as portas por volta das 17h, duas horas antes do habitual. Para atender clientes, eles usaram lanternas celulares, lâmpadas recarregáveis de LED e geradores. “Por sorte, estou com o notebook, que contém o movimento da casa, pois o caixa não está funcionando. As máquinas de cartões de débito e crédito estão na mesma situação”, informou Jefferson Martins Guerra, dono de uma lanchonete na Rua Goitacazes.

“Houve perda de mercadorias, devido ao descongelamento dos frios, e sumiço de clientes. Avisei a Cemig, mas ainda não resolveram o problema”, disse, por volta das 17h30. Numa loja de aviamentos, o gerente Wellington Luiz Pereira usou o visor do celular para vender um carretel de linha para o eletricista Márcio Sena, que comprava o material para a mulher, que é costureira. Márcio levou uma pequena amostra, mas, no escuro, ficou difícil acertar o tom com a cartela de cores. 
    
Na Rua Araguari, empregados de uma estamparia usaram lâmpadas de LED. Perto do computador, Wesley Biannucci contou que a falta de luz começou às 16h30. “Dá muita amolação, temos de ficar sem os computadores”, afirmou. Já numa loja de equipamentos na esquina das ruas Tupis e Araguari, o jeito foi ligar o gerador. Segundo funcionários, há um transformador na região que sempre dá problemas nesta época. Até as 19h, segundo a Cemig, o problema não havia sido identificado no Barro Preto, que continuava sem luz. Houve falta de energia também no Horto, na Região Leste, e Cidade Nova e União, na Nordeste.
Bueiro entupido

Atacante ilhado - O jogador Jô, do Atlético, foi surpreendido pelo temporal quando seguia para a reapresentação na Cidade do Galo, em Vespasiano, na Grande BH. Por volta das 15h30, a BMW dele ficou num alagamento perto do centro de treinamento e ele teve de abandonar o veículo (RODRIGO CLEMENTE/EM/D.A PRESS)
Atacante ilhado - O jogador Jô, do Atlético, foi surpreendido pelo temporal quando seguia para a reapresentação na Cidade do Galo, em Vespasiano, na Grande BH. Por volta das 15h30, a BMW dele ficou num alagamento perto do centro de treinamento e ele teve de abandonar o veículo
Um bueiro entupido de lixo parou o Centro da cidade por mais de uma hora. Primeiro, provocou alagamento, que, por sua vez, enguiçou dois carros. Mais à frente, houve engarrafamento de mais de quatro quilômetros. Segundo o agente da BHTrans Jackson Lima, o problema começou por volta das 17h, quando o temporal alagou a pista na altura do viaduto com a Avenida Silva Lobo, no sentido bairro. Com o “piscinão” que se formou, ao tentar passar dentro da água, um caminhão Hyundai ficou parado, o que acabou acontecendo também com um Corsa Sedan.

Diante do alerta da BHTrans, foram chamados o reboque e um funcionário da área da limpeza da Regional Noroeste. A ação foi rápida. Ele retirou do bueiro garrafas PET, latas de refrigerante, papelão, calotas de carros e até uma placa de veículo. Terminada a tarefa, a enorme poça escoou em exatos oito minutos. “Foi lixo que entupiu a boca de lobo. Lixo não, falta de educação do povo”, protestou o pedreiro Sidney Pereira, de 41 anos, condutor do Corsa parado pelas águas, enquanto aguardava a chegava do guincho. Houve engarrafamento de quatro quilômetros, que se estende do viaduto da Silva Lobo até o Centro da cidade.

Houve transtornos também na Avenida Cristiano Machado, que teve trechos alagados por causa de bueiros entupidos. Houve queda de árvores na Avenida Bernardo Vasconcelos, no Bairro Cachoeirinha.

Previsão
De acordo com a Defesa Civl de BH, choveu mais na Região Oeste (com índice pluviométrico de 69,4 milímetros), seguida da Leste (58), Nordeste (57,2), Pampulha (54), Noroeste (42,6), Venda Nova (37,4), Centro-Sul (32,4) e Barreiro (24,6), entre as 15 e as 19h. Na Norte não houve medição. Somando as oito regiões, a média foi de 46,95mm. Isso equivale a 16% da média histórica para janeiro, que é de 292mm, conforme dados do Instituto Nacional de Meteorologia. 

Segundo Adelmo Correia, do Centro de Climatologia PUC Minas Tempo Clima, a tempestade foi causada pela instabilidade climática ocasionada com grande circulação de ventos e altas temperaturas. Só na Pampulha, a temperatura chegou a 32 graus. Para os próximos dias, no entanto, uma frente fria que está sobre a Região Sul do país e se aproxima do litoral do Sudeste e poderá causar chuvas frequentes. (Colaborou Carolina Mansur)

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