terça-feira, 19 de março de 2013

Após morte em aglomerado, PM invade morro e fere jovem


Durante confusão em festa no domingo, disparos acertaram outras 12 pessoas
Publicado no Jornal OTEMPO em 19/03/2013
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LUCIENE CÂMARA, VINÍCIUS D’OLIVEIRA E JOSÉ VÍTOR CAMILO
especial para o tempo
FOTO: ALEX DE JESUS
Perícia da Polícia Civil analisou o local onde o menor foi baleado
A força de gangues no tráfico de drogas e a atuação inadequada da Polícia Militar (PM) deixam tenso o maior aglomerado de Belo Horizonte, o da Serra, localizado na região Centro-Sul. Em dois anos, três moradores já foram mortos, e um adolescente ficou ferido no contato entre civis e militares. O último caso ocorreu na manhã de ontem, quando um jovem de 16 anos foi atingido por um tiro supostamente em abordagem policial. Horas antes, uma pessoa havia sido morta, e outras 12, baleadas em um baile funk, na praça do Cardoso.

Segundo testemunhas, o menor estava sentado na porta de casa, quando dois militares se aproximaram, e, durante a abordagem, um deles atirou. "Ele estava comendo um pão. Um policial foi até ele e o abordou. Mas, aí, um outro militar saiu do beco e atirou. Uma covardia", disse o servente de pedreiro Welson Silva Santos, 22. Depois do disparo, os dois policiais teriam saído calmamente do lugar, sob protestos. "Outros policiais vieram para socorrer a vítima, mas não deixamos. Um rapaz da comunidade a levou para o João XXIII", disse Santos.

As informações das testemunhas não conferem com o relato do menor dado à polícia no hospital. Segundo o coronel Antônio Carvalho, comandante do Policiamento Especializado da PM, a vítima negou a abordagem e ainda que estivesse sentada no momento do disparo. "Ele contou que estava saindo de casa quando foi atingido pelo tiro", disse o comandante. O jovem teria dito aos militares que já havia cumprido medida socioeducativa por posse de dois pinos de cocaína.

Para a cabeleireira Ana Lúcia de Jesus Silva, 42, mãe do menor baleado, o caso foi resultado do despreparo da polícia. "Ele estava tomando café. Se estivesse armado, com droga, mas não", protestou. A mulher é mãe de outros cinco filhos. "Ele não estuda no momento. Infelizmente, eu saio às 5h e só volto no fim do dia para casa, é difícil acompanhar o que meu filho faz aqui".

Os policiais autores - dois soldados e um cabo -, lotados na 127ª Cia do 22º Batalhão, foram presos e ouvidos pela Corregedoria da PM. Peritos da Polícia Civil analisaram o local do crime.

Tiroteio. Menos de dez horas antes de o adolescente ser baleado pela PM, um tiroteio já havia assustado a comunidade. No fim da noite de anteontem, durante um evento cultural com música funk, batizado de Paz na Serra, seis pessoas chegaram atirando contra uma multidão de mais de 800 pessoas.

Dário Ferreira Leite Neto, 33, morreu antes de receber atendimento médico, e outras 12 pessoas foram baleadas, entre elas, uma jovem de 16 anos que está grávida, uma idosa de 71 e uma criança de 6 anos. Além disso, outras duas pessoas ficaram feridas. Uma delas teria sido pisoteada durante a correria, e a outra, atingida com uma garrafada. Até a noite de ontem, sete permaneciam internadas no João XXIII. A Prefeitura de Belo Horizonte informou que o evento tinha alvará com capacidade para até mil pessoas.

Segundo um morador, que não quis se identificar, Neto era trabalhador. "Ele trabalhava na marcenaria da família e tinha duas filhas pequenas", contou. Ainda conforme a testemunha, os atiradores seriam membros da gangue do Del Rey/Chácara. "Os chefes são dois irmãos gêmeos, chamados Augusto (Chumbinho) e Alberto (Camarão). Um deles estava de capacete, mas deu para ver o rosto pelo que me disseram", falou. Outras pessoas acusaram a gangue do Sacramento de promover o atentado. As duas turmas são do aglomerado. Até ontem, nenhum suspeito havia sido preso.

Para o colega da vítima, os moradores estão vulneráveis, uma vez que os traficantes impõem a própria lei. "Eles obrigaram a população a mudar o nome de uma região. Hoje, não podemos chamar de Chácara, mas só de Baixada".




ANÁLISE
`PM precisa ocupar áreas dominadas´
Os acontecimentos registrados no aglomerado da Serra nos últimos dois anos são vistos por especialistas como sintomas do domínio do tráfico de drogas em algumas áreas e da atuação equivocada da Polícia Militar (PM). O coordenador do Centro de Pesquisas de Segurança Pública da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), Luís Flávio Sapori, disse que é preciso adotar no local o modelo de polícia pacificadora implantado no Rio de Janeiro.

"Há um domínio de traficantes no aglomerado, não de forma tão ostensiva como no Rio, mas há um poder paralelo. É preciso reconhecer esse problema e fazer a ocupação territorial permanente, com uma polícia preventiva que atenda à comunidade", afirmou Sapori. (LC)

Os acontecimentos registrados no aglomerado da Serra nos últimos dois anos são vistos por especialistas como sintomas do domínio do tráfico de drogas em algumas áreas e da atuação equivocada da Polícia Militar (PM). O coordenador do Centro de Pesquisas de Segurança Pública da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), Luís Flávio Sapori, disse que é preciso adotar no local o modelo de polícia pacificadora implantado no Rio de Janeiro. "Há um domínio de traficantes no aglomerado, não de forma tão ostensiva como no Rio, mas há um poder paralelo. É preciso reconhecer esse problema e fazer a ocupação territorial permanente, com uma polícia preventiva que atenda à comunidade", afirmou Sapori. (LC)

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