segunda-feira, 1 de abril de 2013

Epidemia de dengue é a mais letal desde 2008



Taxa de mortes por casos graves da doença em 2013, de 35,2%, é a maior em seis anos. Para especialista, vírus tipo 4 e falhas de diagnóstico podem contribuir para problema. Secretaria atribui aumento à análise mais precisa das causas dos óbitos
Aedes Aegypti - Mosquito da Dengue
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Mosquito da Dengue: transmissor da dengue e da febre amarela urbana
Aedes Aegypti, o mosquito transmissor da dengue
Publicação: 01/04/2013 06:00 Atualização: 01/04/2013 06:46
Clarisse Souza

A epidemia de dengue em Minas em 2013 é a mais letal dos últimos seis anos. Embora a incidência das formas graves da doença – que incluem febre hemorrágica por dengue (FHD) e dengue com complicações (DCC) – seja menor que em 2010, ano da pior epidemia da história do estado, o percentual desses casos que resultam em morte é superior em 2013. Segundo balanço mais recente da Secretaria de Estado da Saúde (SES), das 88 pessoas diagnosticadas com casos graves até 27 de março, 31 pessoas morreram – o equivalente a 35,2% do total. Em 2010, quando foram contabilizados 1.400 casos graves, esse índice foi de 7,6%, com 106 óbitos confirmados – o balanço de 2013 não inclui três mortes, em Belo Horizonte e Santa Luzia, confirmadas pelas respectivas secretarias municipais de Saúde. 

Os números da dengue no estado entre 2008 e 2013 mostram que o índice de casos graves têm se mantido baixo em relação ao total de geral de doentes, variando entre 0,23% e 0,21%. Já a taxa de mortalidade cresce há quatro anos. Em 2008, quando 259 pessoas foram diagnosticadas com dengue grave, 16 morreram – índice de 6,17%. Em 2009, essa taxa caiu para 4,36%, mas desde 2010 não para de subir: em 2011 foi de 10,7% e, em 2012, chegou a 21,4%. Infectologistas e o governo estadual divergem sobre razões para aumento da taxa de letalidade no estado.

Para o vice-presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Carlos Starling, os números podem ser explicados pela reintrodução do sorotipo DEN-4. “As pessoas previamente contaminadas pelos outros três tipos ficaram suscetíveis à contaminação pelo novo vírus, o que é um fator de risco para a dengue hemorrágica”, afirma. Ele considera também que a sobrecarga nos centros de atendimento médico por conta da epidemia de dengue pode ter contribuído para piorar o cenário. “Os sintomas iniciais dos casos graves são muito semelhantes aos da dengue clássica. O fato de as unidades de atendimento estarem lotadas de doentes com sintomas parecidos pode contribuir para uma falta de percepção do que é mais grave”, avalia. 

A diretora de vigilância ambiental do programa estadual de combate à dengue, Marcela Ferraz, discorda. Para ela, o aumento da taxa de mortalidade por dengue grave pode ser consequência de um melhor controle dos diagnósticos. “Não temos evidência de que o sorotipo 4 seja mais letal, embora saibamos que quem já foi contaminado uma vez por outro vírus tem maior chance de evoluir para dengue grave caso contraia a doença novamente”, diz. “O que pode explicar o aumento do percentual de mortes é uma melhoria na análise dos casos de morte por suspeita de dengue”, acrescenta. Ela afirma ainda que a secretaria investe para reduzir a chance de que casos graves em fase inicial sejam ignorados nos centros de saúde. “Temos investido muito em capacitação para que os profissionais identifiquem os sinais de alarme logo no início”, diz. 

Sinais
Resultado de uma reação exacerbada do corpo ao vírus transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, a dengue hemorrágica preocupa pela forma violenta que atinge o organismo. Ela se manifesta inicialmente como a dengue clássica, e só depois de quatro ou cinco dias apresenta sinais que possibilitam o diagnóstico correto. De acordo com Marcela Ferraz, da Secretaria de Saúde, a febre hemorrágica por dengue é diagnosticada com base em critérios como febre, redução de plaquetas, hemorragia e resultados laboratoriais positivos para a doença. Na ausência de um desses sinais, o caso é classificado como dengue com complicações.

Os primeiros sinais claros de que a doença evoluiu para um quadro de dengue hemorrágica são sangramentos, que podem surgir no nariz, gengiva, fezes ou urina, além do surgimento de grandes hematomas na pele. No entanto, alguns sintomas mais sutis podem indicar o tipo mais grave da doença. “Depois dos primeiros dias, a febre pode diminuir, mas a prostração aumenta, falta apetite, e a pessoa se sente pior de uma forma geral”, explica o médico Estevão Urbano, da Sociedade Mineira de Infectologia. Essas reações são sinais de que há um distúrbio na coagulação do sangue. Em poucos dias, ou mesmo horas, o quadro pode evoluir, causando pressão baixa e disfunção dos órgãos, além de provocar grandes hemorragias pulmonares, urinárias ou cerebrais.

Uma das vítimas de dengue hemorrágica no estado este ano foi V.L.F.S., de 56 anos, moradora de BH. Ela morreu em 19 de março. Segundo o marido, que não quis ser identificado, a mulher procurou o posto de saúde no dia anterior, fez exame de sangue e tomou paracetamol e soro. Como o resultado não saiu a tempo, V. foi liberada e levou para casa amostras de soro. No dia seguinte, com dores no corpo, voltou ao posto. “Minha mulher sempre teve saúde boa, o único problema era pressão alta. Estava bem hidratada, mas o exame mostrou que as plaquetas estavam baixas”, lamenta. V. foi encaminhada para o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, onde teve três paradas cardíacas e morreu. Segundo Estevão Urbano, a prevenção contra tipo grave da doença é o mesmo da dengue clássica. “É preciso evitar focos, já que o vírus é o mesmo, só muda a reação do organismo”, avisa. Ele lembra que pessoas que já contraíram outros sorotipos ou que tenham doenças cardíacas, renais ou diabetes correm maior risco. (Colaborou Paula Sarapu)

Fique atento
Veja sintomas de dengue hemorrágica ou de dengue com complicações. Em caso de suspeita, procure o quanto antes atendimento médico:

» Dores abdominais fortes e contínuas.

» Vômitos persistentes 

» Pele pálida, fria e úmida

» Sangramento pelo nariz, boca e gengivas

» Manchas vermelhas na pele

» Sonolência, agitação e confusão mental

» Sede excessiva e boca seca

» Pulso rápido e fraco

» Dificuldade respiratória

» Perda de consciência.

Fonte: Ministério da Saúde

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