segunda-feira, 4 de junho de 2012

Jogo de bicho tem ponto fixo na Câmara de Belo Horizonte



Publicado no Jornal OTEMPO em 04/06/2012
Avalie esta notícia » 
2
4
6
8
LARISSA ARANTES
FOTO: FOTO S SAMUEL AGUIAR - 29.5.2012
Sem censura. O apontador do jogo de bicho tem ponto fixo na varanda da Câmara, onde é conhecido e atende seus clientes com liberdade
Enquanto os vereadores de Belo Horizonte se ocupam com uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar e combater o jogo do bicho na capital, a prática é comum nos arredores do Legislativo municipal e começa dentro da Casa, com um apontador de plantão na varanda do prédio praticamente todos os dias.

Reportagem de O TEMPO descobriu que a jogatina é feita por meio de um homem que faz a coleta das apostas, e os jogadores são os próprios funcionários e frequentadores da Casa. "Eu faço jogo do bicho. O funcionário vem aqui fora e eu pego", confessou o apontador - um aposentado que passa boa parte do dia sentado na varanda do estacionamento da Câmara. O local é área de trânsito dos vereadores e servidores, o que facilita o recolhimento dos jogos. Ele também costuma ficar na recepção da sede do Sindicato dos Servidores do Legislativo do Município de Belo Horizonte (Sindslembh), localizada ao lado da Câmara - também local muito frequentado por funcionários.

Servidores confirmam a existência do esquema de contravenção. "Existe, sim, funcionário que vai atrás dele (do aposentado) para fazer apostas", assegura um servidor que pediu anonimato.

A CPI do jogo do bicho foi instaurada na Câmara, ainda em abril, a partir de requerimento do vereador Cabo Júlio (PMDB). O gabinete do parlamentar apresentou um levantamento segundo o qual Belo Horizonte tem 36 pontos de apostas ilegais na região central e outros três deles estariam localizados em Santa Efigênia, bairro da Câmara Municipal.

Revelação. "Hoje não peguei nada, tá ruim", confidenciou o homem, durante conversa na sede do Sindslembh, na última segunda-feira (28). Ele disse ainda conhecer bastante o Legislativo municipal. "Tenho muita amizade com a turma. Frequento a Câmara há anos".

A reportagem acompanhou durante uma semana a movimentação na rua Tenente Anastácio de Moura, onde fica o sindicato e a entrada lateral do estacionamento da Câmara, em horários variados. Servidores e vereadores circulam o tempo todo nesses dois pontos.

A varanda em que o apontador passa grande parte do dia é uma espécie de "fumódromo". Na entidade de trabalhadores, a movimentação também é intensa, principalmente na parte da tarde, período em que, na maioria das vezes, o aposentado se desloca da Câmara para a entidade, onde permanece por algumas horas.
OPORTUNIDADE
Caso Cachoeira abre discussão
A criação da CPI do Jogo do Bicho na Câmara de Belo Horizonte ocorreu pouco tempo depois de deflagrado o escândalo nacional envolvendo o bicheiro Carlinhos Cachoeira e políticos de vários Estados.

O contraventor foi preso em 29 de fevereiro na operação Monte Carlo da Polícia Federal. A operação desarticulou a organização que explorava máquinas caça-níquel em Goiás.

Escutas telefônicas revelaram que a influência de Cachoeira chegou ao Congresso Nacional e aos governos estaduais. Os principais nomes que surgiram das denúncias foram o do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) e dos governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, e Sérgio Cabral (PMDB), do Rio.

Em 25 de abril, o Congresso instalou oficialmente a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPMI) para investigar a relação do contraventor com políticos. Composta por 32 integrantes titulares - 16 deputados e 16 senadores -, o primeiro alvo foi Demóstenes, que acabou se desfiliando do DEM. Depois de depor no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado, o parlamentar permaneceu calado na reunião da CPI da última quinta-feira. O Demóstenes alegou que o que falaria na CPI mista já havia sido dito no Senado.

Os próximos passos da comissão de inquérito é ouvir os governadores de Goiás e do Distrito Federal, nos dias 12 e 13 de junho, respectivamente. As convocações foram aprovadas na última quarta-feira, quando foi rejeitada, por 17 votos a 11, a proposta de também convocar Sérgio Cabral. (LA)

Nenhum comentário:

Postar um comentário