Desativada, estrutura em curva conhecida como uma das mais traiçoeiras armadilhas da BR-040 foi integrada ao patrimônio da União, mas hoje se degrada em lento abandono
Publicação: 03/09/2012 06:37 Atualização: 03/09/2012 09:38
Em meio a escombros, mato e estruturas corroídas, esta obra de arte da engenharia pode desaparecer se não for transformada em patrimônio arquitetônico |
Tem-se a impressão de que o Vila Rica, fechado ao tráfego desde 26 de setembro de 2010, apodrece mais rapidamente do que quando os pneus das carretas limavam seu asfalto e lambiam as baixas e frágeis muretas de proteção. Percorrer seus 262 metros, hoje, só a pé ou pedalando. Somando sua extensão aos pedaços da BR-040, nas duas cabeças de pista, lacrados depois da inauguração do Viaduto Engenheiro Márcio Rocha Martins, a caminhada, a passos lentos, dura cerca de uma hora.
A única lembrança de que ali passavam milhares de veículos por dia, além da estrutura de concreto, é um pedaço de mola deixado por caminhão numa das temidas descidas rumo à estreita pista do Vila Rica. Tão estreita que é difícil imaginar que por ali cruzavam-se carretas de 30 toneladas e ônibus com até 50 passageiros. Impossível não pensar em tragédias, como a que levou a atriz Zélia Marinho e mais 13 pessoas, em 1967, e o que tirou a vida, dois anos depois, do cantor Mário Albertini e mais 29. Zélia e Mário eram estrelas da TV Itacolomi.
Obra de arte inaugurada com orgulho
O Viaduto Vila Rica, ou Viaduto das Almas, nasceu na BR-3, batizada de 040 em 1964. Está no km 592 da rodovia, entre os municípios de Itabirito e Congonhas, na Região Central. Ganhou fama de traiçoeiro em uma estrada que teve seu traçado perigoso cantado até em festival da canção, na voz de Tony Tornado. E foi batizado em 1º de fevereiro de 1957 com muita pompa pelo presidente Juscelino Kubitscheck (1902-1976) e o governador José Francisco Bias Fortes (1891-1971). Os dois percorreram os 262 metros do elevado em um carro luxuoso. JK não escondia o orgulho. Estava entregando à nação uma grande passagem para o progresso do Brasil.
Em1982, a BR-040 ganhou pista dupla em trechos movimentados, mas os viadutos continuaram estreitos e a carnificina não parou. Parentes de pessoas que perderam a vida em tragédias queriam apelidá-lo de Viaduto da Morte. Mas o que ficou e marcou foi Viaduto das Almas. Não pelos mortos, mas para lembrar o curso de águas claras que corre sob a estrutura: o Córrego das Almas. Não houve como não surgir uma história macabra sobre a passagem de nove metros de largura, construída em curva, que começou com o peso de menos de 1 mil veículos por dia, quando as carretas não eram tão grandes, e chegou a suportar os quase 20 mil automóveis que o atravessavam diariamente poucos antes da aposentadoria.
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