Devotos pediram e agradeceram graças e se emocionaram com a bênção de objetos e documentos
Jefferson da Fonseca Coutinho - Estado de Minas
Publicação: 29/10/2012 07:19 Atualização: 29/10/2012 07:28
Euler Júnior/EM DA Press |
A estimativa da Polícia Militar (PM) e da administração do Santuário Arquidiocesano São Judas Tadeu é de que este ano 100 mil pessoas tenham passado pelas 24 horas de celebrações e homenagens ao padroeiro das causas impossíveis, no Bairro da Graça, Região Leste de Belo Horizonte. Todo ano, a data oficial em que o santo é festejado muda a rotina da região com esquema especial de trânsito, segurança, ambulâncias, logística sanitária – água e banheiros extras para os fiéis –, além de movimentar a economia informal nas cercanias, com dezenas de vendedores ambulantes.
Quadrante de civilidade, não se vê confusão ou grosserias. Até os flanelinhas, ali, pareciam menos achacadores – observados pela BHTrans, pela Guarda Municipal e pela PM. Com capacidade para 1,6 mil pessoas sentadas, o santuário chega a receber mais de cinco mil pessoas, em pé, no dia 28 de outubro. Fora outras centenas de fiéis, nas calçadas, que se contentaram em ouvir os celebrantes da rua, sem nenhuma visão do altar. Com as palmas das mãos para os céus, adultos de várias idades entoaram canções e rezaram, devotos.
Carla Abu Kamel, de 43, advogada, desde que passou no vestibular – segundo ela, pela intercessão de São Judas Tadeu – passou a ter ainda mais fé. Com Luca, de 2, no colo, emocionada, eçapede em especial pela saúde e sorte do filho. “Ele ainda não está falando, e estou preocupada”, diz, tomada pela força da esperança. No velário, o calor das chamas que empretecem as paredes não incomodou a multidão em trânsito e oração. A senhora de cabelos claros, bem cuidados, cruzou o salão com as mãos ao alto, olhar distante e prece silenciosa – um sopro nos lábios.
“Com fé, para São Judas não há causa sem solução”, disse Rita das Graças Pereira, de 72. A aposentada, moradora do Bairro Maria Goretti, acostumada a agradecer e a pedir por saúde, desta vez pediu pelo filho João Paulo, de 7, de criação. “Ele sonha ser jogador de futebol e quer jogar no Galo… quem sabe São Judas não ajuda”, sorriu. Leandro Silva, de 28, professor de línguas, considera o dia especial. “É um momento em que as pessoas deixam de lado o materialismo, grande causador da violência. É muito positivo ver tanta movimentação pela fé”.
Gratidão Padre Pedro Souza Pinto, de 76, pároco emérito do santuário e celebrante da missa das 10h, vê a multidão de fiéis no Bairro da Graça como “símbolo da busca permanente pelos dons de Deus”. O religioso destacou o número de fiéis presentes, vindos de várias cidades de Minas Gerais, por agradecimento, simplesmente. Ao lado de Padre Pedro, José Geraldo dos Santos, com o filho Davi Lucas, de 10 meses, moradores do Bairro Jardim Vitória, na Região Nordeste de Belo Horizonte. “Ele nasceu bastante debilitado e pedimos que São Judas o acolhesse. Viemos agradecer pela saúde dele, pela graça alcançada”, diz José.
De olhos verdes reluzentes, Maria Vera Marques, de 44, saiu cedo do Bairro Serra por gratidão ao santo, “que não a desampara em nenhuma situação”. Contou que marca presença todos os dias 28 do ano. Neste outubro, o administrador do santuário, Álvaro Fernandes Moreira Soares, de 42, ressaltou o movimento ainda maior: dez mil pessoas a mais. “Houve uma divulgação maior pela centralização das comemorações. Não tinha visto um movimento tão grande”.
Eliana Cândida, de 65, de Betim, pediu luz para todas as pessoas do mundo, além de redenção para enfermos e prisioneiros. Há 35 anos, na companhia de familiares, faz, de joelhos, o caminho em torno do santuário. Nas costas da igreja, num canto da Sala das Promessas, encostada, uma cruz de madeira de quatro metros chamava a atenção. Álvaro, o administrador, explicou: “Foi trazida nos ombros por um fiel que veio a pé, de Contagem”.
Calor não abala público
Mesmo com o tempo seco, na manhã de forte calor – 35 graus, segundo o Climatempo –, não havia metro quadrado vazio dentro do santuário. Lotação que se repetia para as missas rezadas de duas em duas horas, desde a noite de sábado. Com o aumento da violência, Vânia Maura de Lima, de 36, consultora de vendas, pediu, este ano, especialmente por proteção para todas as famílias. Na falta de espaço, houve esbarrões. Todos desculpados, sempre aos sorrisos de comunhão. Quatro gerações, ao menos, de todas as classes sociais, ali estavam, unidas na fé.
Do lado de fora, sombrinhas coloridas e guarda-chuvas para proteger do sol escaldante. Ambulantes se misturaram aos fiéis na lida por um troco. “É R$ 1 o pacote de velas de boa procedência, de parafina… faço questão de vender para o senhor, para a senhora…”, anuncia o moço dos pés sujos sobre as sandálias encardidas. “Fé? Sei lá, mano… Acho que é a prosperidade que Deus me dá”, disse, desconfiado. Na esquina das ruas Restinga com Macaé, pais refrescaram com água mineral os filhos de colo.
Enquanto Carla Kamel pediu pela saúde do pequeno Luca, de 2 anos, José Geraldo dos Santos agradeceu pela melhora na debililidade do filho Davi Lucas, de seis meses |
SAIBA MAIS - Devoção desde o século 18
São Judas Tadeu nasceu em Caná de Galileia, na Palestina. Sua mãe, Maria, era prima de Maria Santíssima, e o pai, Alfeu, irmão de São José. Portanto, São Judas Tadeu era primo de Jesus. Era irmão de Thiago, José, Simão e Maria Salomé. Depois da ascensão de Jesus, São Judas, perseguido, iniciou a pregação da fé. Tomou parte no primeiro Concílio de Jerusalém e evangelizou Mesopotâmia, Edessa, Arábia e Síria. Destacou-se principalmente na Armênia, Síria e Norte da Pérsia.
Na Mesopotâmia, São Judas ganhou a companhia de outro apóstolo: Simão, o Zelote. Segundo São Jerônimo, ambos foram martirizados cruelmente quando estavam na Pérsia, mortos a golpes de machado, desferidos por sacerdotes pagãos, por se recusarem a prestar culto à deusa Diana. São Judas é invocado como advogado das causas desesperadas e dos supremos momentos de angústia. Essa devoção surgiu na França e na Alemanha, no fim do século 18.
No Brasil, a devoção a São Judas é muito popular e surgiu no início do século 20. Devido à forma como foi martirizado, é representado segurando um livro – simbolizando a palavra que anunciou – e uma machadinha – o instrumento de seu martírio. Suas relíquias atualmente são veneradas na Basílica de São Pedro, em Roma. Sua festa litúrgica é celebrada em 28 de outubro, suposta data de sua morte
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