quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Mais de um terço dos jovens nunca desliga telefone celular


Pais têm dificuldade em estabelecer limites aos filhos, afirma psicóloga
Publicado no Super Notícia em 02/01/2013
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LITZA MATTOS

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Próximo o bastante para dividir os momentos de alegrias e tristezas, quase como um amigo. É assim que muitos jovens descrevem a relação que têm com o celular.

Uma pesquisa realizada pela Fundação Telefônica Vivo em parceria com o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) e outras instituições analisou o comportamento de mais de 4.219 crianças e adolescentes diante da TV, internet, videogames e do celular. Uma das revelações do estudo é que mais de um terço dos jovens nunca desliga o aparelho.

A estudante Luiza Oliveira, 14, é uma adolescente que não desgruda do telefone nem por um segundo. "Depois que ganhei meu primeiro aparelho, por volta dos 10 anos, nunca mais fiquei sem ele. Gosto muito de navegar nas redes sociais, acessar o Twitter, Facebook, além da falar com as amigas. Provavelmente, passo cerca de cinco horas mexendo no aparelho. Às vezes, percebo que isso me atrapalha no desempenho escolar, até me deixa com insônia, e meus pais acham ruim, mas o telefone hoje é como um amigo", conta.

De acordo com a consultora de produtos de beleza, Rosana Sena Barreto, 44, e mãe da estudante Mariana Sena Barreto, 16, o primeiro celular foi dado à filha porque todos os amigos da garota estavam ganhando.

Cuidados. A psicóloga e psicanalista Viviane de Quadros alerta os pais para que não caiam em ‘armadilhas’. "Com os vários modelos e marcas, o aparelho também é um objeto de desejo que o mercado usa para seduzir crianças e adolescentes. Os riscos são muitos: os jovens não têm consciência para saber a hora certa de usar, e os pais têm muita dificuldade de impor limites", afirma Viviane.

Segundo Viviane, vivemos em um tempo em que o celular é também uma forma de controle, uma vez que os pais se sentem mais seguros ao saberem que os filhos estão acessíveis de algum modo.
Mariana conta ela passa cerca de cinco horas por dia mexendo no aparelho. "Não me imagino mais sem o celular. Ele me proporciona tudo o que eu gosto: acesso às redes sociais, à internet e o envio de mensagens", afirma.

Porém, quando se trata da socialização, o aparelho também está no centro de um paradoxo, acredita a psicóloga. "Há muito tempo que o celular deixou de ser apenas um instrumento para falar, mas, à medida que as crianças ficam ali digitando o tempo todo, elas não vivenciam as experiências de contato com o outro. É uma ‘aproximação afastada’, pois, ao mesmo tempo em que eles têm vários amigos nas redes sociais, ao digitar, estão sozinhos", observa.

Se, para os adolescentes, o contato deve ser observado de perto, para as crianças, a psicóloga acredita que é ainda mais precoce. "Os pais devem se perguntar por que uma criança de 6 anos precisa de um aparelho e se eles não estariam apenas cedendo a um pedido dos filhos. Cada família deve achar a sua resposta", afirma Viviane.
`Caça´ a aparelho não é necessária
O estudante Kevilin Michael, 15, lembra exatamente quando ganhou o primeiro celular. "Foi quando eu estava na primeira série, tinha uns 6 ou 7 anos. Na época, meus pais me deram em busca de segurança, mas eu usava mais para jogar. Agora, com os aparelhos mais modernos, utilizo mais para enviar mensagens e escutar música", conta o garoto que não desgruda do celular nem na hora do banho.

Iris Maria de Jesus, 36, proprietária de uma loja e mãe do garoto, diz que o comportamento do filho com o celular já foi pior. "A paixão dele pelo aparelho é para ouvir música. Ele chega a dormir com o fone no ouvido, por isso, sempre estou de olho para que ele evite ouvir muito alto. Quando vamos fazer alguma visita na casa de parentes, pedimos para ele não mexer, mas nunca tivemos reclamações da escola", conta.

Michael admite que é muito "apegado" ao celular e que sabe a hora certa de usar o aparelho. No entanto, ele conta que, dentro da sala de aula, o aparelho fica em cima da sua mesa ou dentro do bolso e, sempre que vibra, ele dá uma conferida. Para o estudante, o motivo de os jovens estarem tão dependentes do aparelho é exatamente devido às facilidades de acesso à internet.

"É necessário também considerar o movimento cultural. Por isso, não cabe aos pais também sair à caça dos celulares, mas é preciso oferecer algum regulador, definir a hora de usar e o momento de guardar", orienta a psicóloga e psicanalista Viviane de Quadros. (LM)

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