sábado, 2 de fevereiro de 2013

"Vou dar ainda mais valor à vida", diz sobrevivente de bala perdida no Centro de BH


Mulher que foi baleada durante fuga de assaltantes que invadiram a Galeria do Ouvidor recebe alta

Publicação: 02/02/2013 06:00 Atualização: 02/02/2013 06:13
Rosângela, ao lado do marido, Wagner, deixou a UTI: ferida há 10 dias no Centro (ARQUIVO PESSOAL)
Rosângela, ao lado do marido, Wagner, deixou a UTI: ferida há 10 dias no Centro
Depois de passar uma semana em coma induzido, a supervisora de vendas Rosângela de Paula Ferreira, de 43 anos, atingida por bala perdida durante assalto em frente à Galeria do Ouvidor, recebeu alta na noite de ontem da Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Ela permanece internada na enfermaria do Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, mas está cada vez mais perto de voltar para casa, onde deixou a panela de arroz no fogo por fazer. “Vai ficar lá, no mesmo lugar, esperando você chegar”, brinca o marido, Wagner, mais aliviado agora que o pior passou. Ao ouvir o comentário do marido, Rosângela sorri. “Não falei que não era para você se preocupar? Estou aqui e estou bem. Sinto que vou dar ainda mais valor à vida.”

“É um milagre ela estar viva”, desabafa Wagner. Segundo o marido, o projétil passou a milímetros da coluna, deixando-a com dificuldades para movimentar a perna direita. O corte da cirurgia mede cerca de dois palmos de comprimento, atravessando a barriga, da virilha ao primeiro osso abaixo dos seios. Diante da possibilidade de sequelas, a família estuda ajuizar medida cautelar contra o Estado, pedindo ajuda para custear o restante do tratamento e a possível reabilitação. “Não importa saber de onde veio. O absurdo é ela ser vítima de bala perdida em pleno Centro, no meio de cerca de 400 pessoas. Podia ser qualquer um de nós”, protesta Wagner. Segundo ele, o boletim de ocorrência registra que o tiro partiu da arma de um policial, reagindo à ação do assaltante – o que ainda está em apuração.
Naquele dia, 23, Rosângela pregou um bilhete na geladeira para lembrar sobre a necessidade de pedir o gás e saiu para fazer compras na região central. Desceu do ônibus, levou chocolates na promoção para o filho de 17 anos e seguiu em busca de miçangas para bordar chinelinhos. Ainda passou em outra loja para conferir o preço das calças jeans para o filho. “Estava atravessando a rua e de repente todos saíram correndo. Percebi uma confusão, mas não sabia que estava ocorrendo um assalto. Tentei voltar e me esconder atrás de um caminhão-baú, mas a bala veio antes”, explica, na cama da enfermaria. 

Como estava de costas, Rosângela não viu quem deu o tiro – se um dos três assaltantes das Lojas Itapoã, no mesmo quarteirão, ou se um policial. “Não vi quem era e imediatamente despenquei. O sangue voou longe. Gritei sem parar: ‘Socorro, tomei um tiro!’”, conta ela, que foi socorrida por uma moça chamada Renata. “Aí, eu vim para o hospital o tempo todo orando para Deus me livrar do perigo”, relata ela, serena. 

Rosângela não pretende mudar a rotina depois que sair do hospital. “Mudar como? Já não sou de ir a festa, boate, locais de maior risco. Minha vida é só trabalhar, ir a um aniversário e fazer minhas comprinhas na rua. Minha rotina já é básica”, comenta a vítima, que manifesta preocupação apenas com o filho adolescente. “Aliás, passou da hora de ele chegar em casa. Você já ligou para ver se está tudo bem?”, diz Rosângela, mãe coruja, interpelando o marido. 

Dois foram presos
Dos três acusados de participar do assalto, dois foram detidos: Walisson Braz, de 23 anos, e o menor F.J.M.F., 16. Uma arma foi recolhida com eles. Segundo a polícia, os criminosos invadiram a loja de calçados, mas uma pessoa conseguiu pedir ajuda a um militar da cavalaria. Eles teriam sido reconhecidos também como assaltantes de uma joalheria na mesma região. Um PM à paisana perseguiu o suspeito até prendê-lo. De acordo com testemunhas, o disparo foi feito por um policial. Segundo o casal, o filho adolescente está revoltado com o que ocorreu e se nega a tocar no assunto. “Ele fica pedindo para a gente não falar mais sobre o acidente, como se quisesse apagar da memória o dia em que a mãe levou um tiro. Como se fosse simples passar uma borracha. No entanto, temos de conseguir ajuda para a Rosângela. Essa bala não pode ficar repercutindo na gente a vida toda”, diz.

Um comentário:

  1. Já fiz parte dessa turma que mudou a minha vida para sempre e mudei minhas escolhas pra voltar mais forte e mais preparado e vou voltar com a certeza que Jesus me deu abraço irmãos de farda.

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