terça-feira, 5 de março de 2013

ALERTA, ALERTA, Bichos estão sob suspeita de leishmaniose no Zoológico de Belo Horizonte


Animais de duas espécies da família dos canídeos abrigados pela Fundação Zoo-Botânica de BH teriam contraído a doença e visitantes temem ser contaminados

Publicação: 05/03/2013 06:00 Atualização: 05/03/2013 06:38
Zootecnista Aldre Brito passeava com o filho, de 2 anos, e se mostrou preocupado com a notícia do surgimento da doença no zoo
 (Marcos Vieira/EM/D.A Press)
Zootecnista Aldre Brito passeava com o filho, de 2 anos, e se mostrou preocupado com a notícia do surgimento da doença no zoo

As doenças que levaram à morte animais como a gorila Kifta, no último sábado, quase um ano depois de o companheiro Idi Amim falecer, não trazem perigo apenas aos 3,5 mil animais do acervo do Zoológico de Belo Horizonte. Há enfermidades em espécies que ameaçam visitantes menos avisados. A reportagem do Estado de Minas teve acesso a informações de profissionais ligados à instituição que dão conta de que os cinco cachorros-do-mato-vinagre e os dois lobos-guará que vivem ali estão contaminados por leishmaniose visceral, uma doença transmissível ao homem e que pode levar à morte, especialmente crianças, idosos e pessoas debilitadas. O zoológico confirma que um primeiro exame apontou a doença, mas que mais testes precisam ser feitos para confirmar a situação. Enquanto isso, domingo passado, esses animais continuavam circulando em seus recintos a menos de dois metros dos visitantes.

A Secretaria Municipal de Saúde informou ontem que a Gerência de Zoonoses da Pampulha foi comunicada sobre a presença de um cachorro-do-mato-vinagre com exame positivo para leishmaniose, mas aguarda um novo resultado para confirmar a doença. Ao contrário do que a secretaria recomenda para os animais domésticos afetados pelo tipo visceral da doença, que é o sacrifício, o órgão informou que no zoológico foram tomadas medidas como borrifação do local e isolamento do animal.

Em 2012, até novembro, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou pelo menos 84 internações médicas de pessoas com leishmaniose visceral em BH. Nos leitos desses hospitais houve pelo menos uma morte. O Ministério da Saúde estima que a letalidade da doença seja de 90% quando não há tratamento logo no início da manifestação do mal. A leishmaniose é uma infecção causada pelo protozoário Leishmania chagasi, transmitido pelo mosquito-palha. Os cães são os hospedeiros mais comuns do protozoário, contaminando mosquitos que se alimentam de seus sangue, e estes, por sua vez, transmitem a doença aos homens. BH é considerada área endêmica da doença, ou seja, ela circula com frequência pelo território.

O Manual de Vigilância e Controle de Leishmaniose Visceral no Brasil, editado pelo Ministério da Saúde, determina que animais infectados devem ser sacrificados e não submetidos a tratamento, uma vez que a pasta não considera esse procedimento eficaz. E a eutanásia, ainda que polêmica, tem sido a prática do Centro de Controle de Zoonoses de BH no que se refere aos cães errantes e de propriedade privada. Contudo, essa parece não ser a estratégia a ser seguida pelo zoológico. De acordo com a chefe da Seção de Mamíferos da Fundação Zoobotânica, Valéria Pereira, caso seja confirmado que os animais estão contaminados o procedimento será outro. “Vamos procurar um tratamento para as espécies”, disse. Pereira não considera que representem perigo imediato aos visitantes e por isso não removeu os espécimes suspeitos de estar doentes da exposição. “Nós aplicamos remédio no pelo dos animais e colocamos coleiras com repelentes para impedir que os mosquitos os piquem e depois possam ter contato com os visitantes”, diz. 

CRÍTICAS No domingo passado, a reportagem do EM constatou a presença de pelo menos três cachorros-do-mato-vinagre e de dois lobos-guará, todos sem coleiras no pescoço. Pior do que isso, a área onde ficam é especialmente infestada por mosquitos, sendo comum ver os visitantes se abanando para afugentar os insetos inoportunos. O zootecnista Aldre Brito, de 30 anos, passeava com a mulher e o filho, de 2 anos, e se mostrou preocupado com a informação de que os animais poderiam estar contaminados por leishmaniose visceral. “Só de haver uma suspeita, esses animais deveriam ser afastados. Não se brinca com a saúde das pessoas que vêm aqui com suas famílias, achando que é seguro”, afirma. O psicólogo Rodrigo de Souza Lopes, de 41, que também levou a família para conhecer os animais selvagens, considera perigoso a exposição de espécimes doentes. “A gente não sabe até onde essas mortes de bichos têm haver com a falta de condições ou de tratamento que recebem. Mas a segurança do visitante deve ser a prioridade”, salienta.

A morte da gorila Kifta trouxe vários questionamentos sobre as condições do zoológico e a situação de saúde de alguns animais. A direção confirmou que um dos tigres estava com uma doença renal gravíssima e de difícil tratamento, desde que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama) o retirou de um circo e entregou aos cuidados da instituição, há 6 meses. Rumores sobre a morte de um dos rinocerontes foram negados e a direção confirmou que uma praga infectou os flamingos e todos tiveram de ser mortos para não contaminar outras aves. A doença teria chegado ao zoológico, segundo a instituição, trazida por aves migratórias que frequentam a Região da Pampulha.

SAIBA MAIS
PRINCIPAIS TIPOS

Leishmaniose é uma doença transmitida por protozoários do gênero leishmania. No Brasil há atualmente seis espécies de protozoários responsáveis por causar doença humana. As variedades mais encontradas são a leishmaniose visceral  (LV) e a leishmaniose tegumentar americana (LTA). A primeira é conhecida como calazar, esplenomegalia tropical e febre dundum. 

A LV é transmitida ao homem por meio da picada do inseto vetor (Lutzomyia longipalpis) conhecido popularmente como mosquito-palha, birigui, asa branca, tatuquira e cangalhinha. Esses insetos têm hábitos noturnos e vespertinos, atacando o homem e os animais principalmente no início da noite e ao amanhecer. Os sintomas mais frequentes são febre e aumento do volume do fígado e do baço, emagrecimento, complicações cardíacas e circulatórias, desânimo, prostração, apatia e palidez. Pode haver tosse, diarreia, respiração acelerada, hemorragias e sinais de infecções associadas. Quando não tratada, a doença evolui podendo levar à morte até  90% dos doentes. Por sua vez, a LTA é uma doença infecciosa, não contagiosa, que provoca úlceras na pele e mucosas. É transmitida ao homem pela picada das fêmeas do mosquito flebótomo infectadas. As lesões mucosas são mais frequentes no nariz, boca e garganta. Quando atingem o nariz podem ocorrer entupimentos, sangramentos, coriza e aparecimento de crostas e feridas. Na garganta, dor ao engolir, rouquidão e tosse.

Nenhum comentário:

Postar um comentário