Maurício de Souza/Hoje em Dia
Os 50 mil moradores reclamam da falta de viaturas e policiais militares circulando pelas seis vilas
Os 50 mil moradores reclamam da falta de viaturas e policiais militares circulando pelas seis vilas
Fogos de artifício ou disparos de armas? Não importa a origem do barulho no aglomerado da Serra, na zona Sul de Belo Horizonte. O que interessa é a segurança e a qualidade de vida dos seus moradores. Muitos reclamam que, sem patrulhamento preventivo da Polícia Militar (PM), o tráfico atua livremente.
Nascida e criada no aglomerado, a ajudante de produção F.F.S., de 25 anos, afirma que a ausência da PM é notada desde o mês de fevereiro de 2011. Na época, dois moradores da vila Marçola, tio e sobrinho, foram executados por militares do Batalhão de Rondas Táticas Metropolitanas (Rotam), durante suposta operação contra o tráfico de drogas.
“Desde então, a polícia aliviou a repressão aos criminosos. Com isso, os traficantes tomaram conta e agem livremente no aglomerado”, denuncia a moradora. Segundo ela, a movimentação dos criminosos é mais intensa à noite, quando fogos de artifício ou rajadas de metralhadoras interrompem o silêncio no local.
“O barulho é assustador, dá muito medo. Porém, a gente acaba se acostumando a conviver com essa situação”, lamenta.
Os estampidos também intimidam os moradores, que preferem o anonimato. Desconfiado, um pedreiro que há 32 anos mora no aglomerado hesita em falar sobre o assunto. Após alguns minutos de indecisão, mostrando-se revoltado, ele decide dizer o que considera “um descaso das forças de segurança”.
Na avaliação do morador, sem policiamento ostensivo, pessoas inocentes correm o risco de perder a vida, assim como em fevereiro do ano passado. “Que a polícia não passa mais por aqui com frequência, isso todo mundo já sabe. O problema é deixar os traficantes atuando livremente no aglomerado. Nossa rotina é marcada pelo medo”, destaca o pedreiro.
Na quarta-feira (11), a reportagem do Hoje em Dia circulou pelo aglomerado por cerca de duas horas e nenhuma viatura policial foi vista na região. Segundo o tenente-coronel Luiz José Francisco Filho, comandante do 22º Batalhão da PM, em março foi implementado no entorno do aglomerado o projeto Polícia e Família.

“O objetivo é estreitar o relacionamento com a comunidade”, disse. Ele afirma que agentes do Grupo Especializado em Policiamento em Área de Risco (Gepar) patrulham a região 24 horas.
Bocas de fumo
Após a morte dos dois moradores, um líder comunitário, que pediu anonimato, disse que as 14 prestadoras de serviços públicos no aglomerado da Serra não superavam as bocas de fumo espalhadas pelas seis vilas.
Os 50 mil moradores contavam com cinco centros de saúde, três escolas, quatro unidades municipais de educação infantil e dois Centros de Referência de Assistência Social. A favela também abrigava 18 pontos de venda de drogas.